• Expectativa de que não estará na lista de Janot também contribuiu para reaproximação de Renan
- O Globo
Quem convive com Renan Calheiros diz que, nas últimas semanas, ele também já estava cansado de rugir. E queria encontrar uma forma para voltar a falar em seu tom natural de voz. Por causa disso, o telefonema de Dilma deu oxigênio a ele e a ela, permitindo a ambos saírem das profundezas para a superfície.
Da reunião com a presidente, já revigorado, Renan passou a remar. Dilma lhe deu assento privilegiado — no qual, embora não seja o capitão da nau, função reservada a ela, é seu melhor navegador. Auxiliado por Romero Jucá ( PMDB- RR) e Eunício Oliveira ( PMDB- CE), com quem divide tarefas e domina o Senado, ele pensou num mapa para que a discussão mudasse de rumo. Por conta disso, passou a se reunir com o ministro Nelson Barbosa ( Planejamento) para formatar a Agenda Brasil, uma compilação de projetos — a maioria já em tramitação — com o objetivo de estancar a crise econômica.
Recondução de Janot
No dia seguinte, sexta- feira, numa viagem a Boa Vista ( RR), Dilma Rousseff ouviu de Jucá, de quem também havia se afastado, a garantia do apoio de Renan para a recondução do procurador- geral da República, Rodrigo Janot, ao cargo. Jucá também lhe afiançou que o processo no Senado seria o mais ágil possível.
A tal Agenda Brasil produziu, até agora, o efeito planejado: reduzir a densidade do nevoeiro político, permitindo que o governo possa enxergar um pouco melhor. Mas Renan, que sabe navegar em águas turbulentas, percebeu que para não deixar o barco afundar era preciso mais. Por isso, ele e Temer agiram para conter o julgamento das contas da presidente Dilma de 2014, em análise pelo Tribunal de Contas da União ( TCU), por uma série de irregularidades fiscais.
Contraponto a Cunha
O armistício de Renan, naturalmente, não se deu apenas porque ele voltou a se apaixonar por Dilma. Está ancorado na quase convicção de que não estará na próxima lista de denunciados de Janot por corrupção; no contraponto à atuação hiperativa e beligerante do presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ); e na chance de ter ao seu lado o empresar iado que quer soluções mais rápidas para a cr ise econômica.
Nos últimos oito anos, Renan Calheiros foi ao inferno. Escapou da cassação após votação no plenário por 40 votos contra 35 que o consideraram culpado. Presidente do S enado em maio de 2007, foi acusado de ter as contas pessoais pagas por um lobista de empreiteira. Num acordão feito pelo PMDB, livrou- se da cassação, mas teve que renunciar à presidência da Casa para manter o mandato.
Na mais nova roupagem e demonstrando resiliência ímpar, o peemedebista agora se coloca como o potencial salvador de um dos governos mais impopulares da História da República.
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