- O Globo
• Rejeição ao governo pegou em cheio eleitores e não eleitores de Dilma
As manifestações estão de volta. Hoje, haverá manifestação contra o governo em várias cidades. Será a terceira do ano. expectativa é de que a adesão seja similar ou maior do que em março, quando cerca de dois milhões foram às ruas. Naquele mês, segundo o Datafolha, 13% consideravam o governo ótimo ou bom. Hoje, são apenas 8%. A avaliação ruim/péssimo passou de 62% para 71% no mesmo período.
Outro fator que pode contribuir para incrementar o número de pessoas nas ruas é a recente prisão do ex-ministro José Dirceu por suposto envolvimento no escândalo da Petrobras. Como contraponto às manifestações de hoje, no dia 20 movimentos sociais ligados ao PT e ao governo farão protestos em São Paulo.
Nessa etapa das manifestações, no segundo mandato de Dilma Rousseff, elas têm ocorrido dentro da normalidade, com pouquíssimos incidentes. A maioria das expressões está dentro da normalidade democrática. Apenas uns e outros pregam a volta dos militares, numa espécie de delírio nostálgico, mas poucos dão curso a tais delírios.
Até agora, mesmo em meio a uma tempestade perfeita que inclui crises de natureza variada, as instituições democráticas estão funcionando a contento, e tudo tende a se constituir um verdadeiro e necessário exercício de cidadania.
Evidente que, ao escrever ex ante, corro riscos. A análise da conjuntura política trabalha com uma métrica elástica. Não é possível testar hipóteses para apontar um resultado concreto. Vale lembrar o velho ditado: “Aquele que prevê o futuro erra mesmo quando acerta”. Porém — e sempre existe um porém —, a partir de nossa visão analítica, é possível avaliar os principais vetores e concluir que as manifestações tendem a ocorrer de forma pacífica, todavia não menos legítima. Assim, a mensagem que vem das ruas é poderosa e deve ser levada em conta pelos detentores do poder.
O que as ruas querem? Considerando o perfil dos manifestantes de eventos passados, a maioria era de eleitores de oposição. Entretanto, a situação de hoje é bem diferente. A impopularidade do governo pegou em cheio eleitores e não eleitores de Dilma.
Para piorar, a cena econômica se deteriorou frente ao quadro de março. O que era apenas político e ético, agora passa a ser econômico também. É uma situação muito grave que tende a enfraquecer o governo, já que tudo conspira contra. Inclusive a precária capacidade de o Executivo se comunicar. E, pior, de reagir ao recado das ruas.
O que quer as ruas? Basicamente, três coisas que dependem da preferência (ou da não preferência) política dos manifestantes. São elas: uma atitude firme dos poderes públicos contra a corrupção; a substituição do atual governo; e/ ou a retomada do crescimento econômico, com controle da inflação.
Alguns querem tudo ao mesmo tempo; outros entendem que a questão da corrupção é a mais séria e implica uma “limpa” no mundo político. Fora isso, tanto as classes médias quanto as populares estão, com toda a razão, preocupadas com a crise econômica.
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Murillo de Aragão é cientista político e especialista do Instituto Millenium
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