- O Estado de S. Paulo
O símbolo das manifestações de domingo, que faz sucesso nas redes e vai ficar, é o boneco inflável de Lula na Esplanada dos Ministérios, ao sabor do vento e da ira de milhares de pessoas que se dispuseram a sair de casa num lindo dia de sol e calor para gritar contra ele, Dilma e o PT. A sincronia é evidente: quanto mais a Lava Jato se aproxima de Lula, mais a ira popular o atinge.
Se os protestos de junho de 2013 eram difusos e confusos, eles foram ganhando discurso e organicidade e chegaram a este 16 de agosto com vigor, disseminados pelo país inteiro e principalmente com foco. Pouco importa se houve menos gente que no histórico março, o fundamental é que quem foi às ruas ontem sabia exatamente o que queria dizer _ e para quem.
Homens, mulheres, jovens, velhos e crianças, de verde e amarelo, ladeavam imensas faixas defendendo o “impeachment já” e gritavam “Fora Dilma”, “Fora PT, “Lula nunca mais”. Dez entre dez entrevistados se diziam exaustos com tanta corrupção e um novo personagem, um personagem a favor, passou a brilhar nas ruas empanturradas de gente no DF, em todas as capitais e em incontáveis cidades do interior.
Esse personagem não é político, não tem mandato e não tem partido. Trata-se do juiz Sérgio Moro, versão atualizada do então ministro Joaquim Barbosa. Joaquim entrou para a história como o menino negro e pobre que veio a presidir o Supremo Tribunal Federal justamente durante o bombástico julgamento do mensalão, que, pela primeira vez, não perdoou a “elite branca” e a elite política do país. É como se Moro, com a Lava Jato, desse continuidade ao serviço.
A população que rejeita maciçamente Dilma, o PT e o que Lula passou a representar é a mesma que aprova maciçamente Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, que quebram paradigmas e ensinam aos poderosos e aos cidadãos comuns que a Justiça pode, sim, valer para todos. Um aprendizado e tanto, com presidentes de partidos do governo, diretores da Petrobrás e os maiores empreiteiros trancafiados ou presos a tornozeleiras eletrônicas.
De nada adiantam acordões políticos em Brasília, porque esse processo não vai parar. Como de nada adianta o governo se dizer feliz da vida porque as manifestações de ontem tiveram menos gente do que as de março. Tiveram mesmo, e daí? Elas ocorreram em todas as regiões, desde as mais ricas até as menores e mais pobres, deram nitidamente os seus recados e têm uma força política enorme.
Política é dialética, não cartesiana, e o valor e o peso de manifestações não podem ser medidos só pelo número de manifestantes, porque havia tantos a mais ou tantos a menos. A de domingo, a terceira num único ano, foi muito expressiva e já deixa engatilhada a próxima. A sociedade está mobilizada e é ela quem dá a Dilma o troféu de presidente mais mal avaliada da história pós-redemocratização.
Dilma ganhou um cerco de segurança na semana passada, com mãos amigas do Supremo, do TSE, do TCU, do Senado e da mídia, mas a irritação popular contra ela não esmaeceu, e uma coisa é certa: se tem a imagem de mulher honesta, que não passa a mão no dinheiro público, Dilma destruiu a economia e passou a ser indelevelmente vista como a presidente que mente, que vendeu um País maravilhoso na campanha e entregou um País ao cacos do primeiro para o segundo mandato.
Com acordão ou não em Brasília, a percepção da população não mudou: a corrupção chegou ao auge e há uma exaustão com a era PT, o governo Dilma e as mágicas de Lula. Ele escapou das primeiras manifestações, mas não passou incólume pelo tsunami e não tem mais força popular para resgatar Dilma. Talvez, nem mesmo para se resgatar. Seu prestígio está como o enorme balão com a sua cara na Esplanada dos Ministérios: ao sabor dos ventos – dos ventos da economia e da Lava Jato. Dilma pode até estar salvando o mandato, mas isso não é tudo. Ela, o PT e Lula nunca mais serão os mesmos
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