segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Mesmo com atos, Dilma ganhou fôlego, dizem analistas

• Cientista político diz que o ‘alivio para o governo vem menos do refluxo das manisfestações’, mas por ter conseguido melhorar a articulação

Por Thiago Herdy – O Globo

SÃO PAULO — Cientista político da FGV, Claudio Couto afirma que as manifestações deste domingo demonstram que a presidente Dilma Rousseff conseguiu ganhar fôlego. O motivo, para ele, se deve a articulação política da presidente realizada na última semana junto ao Congresso. Ainda para Couto, mesmo com a adesão menor que em 15 de março, as manifestações estão concentrando um grande número de pessoas, e devem ser observadas com cautela.

O GLOBO: Qual é o reflexo dos atos para o governo?

Claudio Couto: Dilma ganhou fôlego, não por causa da manifestação, mas porque melhorou a articulação política junto ao Congresso. Ela conseguiu melhorar o clima, afinal de contas, temos hoje um homem bomba na Câmara, que é o Eduardo Cunha. A crise começa na Dilma, claro, ela é o centro da política nacional. Mas, o grande nome da crise é o Cunha.

As manifestações perderam força?

A questão numérica tem que ser olhada com cautela. Os números criaram uma armadilha, que é o paradoxo do sucesso. Como a de 15 de março foi muito grande, tudo que vem depois acaba sendo percebido como fracasso, o que não é correto. Não são do mesmo tamanho, mas ainda são muito grandes. O alívio para o governo vem menos do refluxo das manifestações, mas do fato de ele se articular melhor dentro das instituições públicas.

Foi a primeira vez que o Aécio Neves (PSDB) participou. Qual o significado?

É consistente com aquilo que ele defende na tribuna. Se ele acredita no afastamento da presidente, era de se esperar que se fizesse ali. Não ter sido mal recebido é sinal de que os movimentos não veem de maneira tao negativa, como no passado, a presença de liderança política.

Qual é o beneficio para ele?

Ele fala para convertidos. Mas se tornar o escolhido dos convertidos não é ruim, pode posicioná-lo na disputa interna no PSDB. É um jogo de risco, depende do que acontece daqui pra frente.

Há espaço de diálogo, ainda que mínimo, dos movimentos com o governo?

Nenhum. O grupo pede a saída do governo.

Foi a primeira vez que houve manifestação no Instituto Lula. É contraponto?

Querem trazer a militância para perto e chamar a atenção para um episódio muito sério, que foi a bomba jogada contra o instituto. Mas, perto das manifestações, foi muito pequeno. Não tem capacidade de fazer contraponto real.

Qual é o fôlego dos movimentos?

Se a presidente conseguir um acerto dentro do sistema político institucional que lhe garanta sobrevivência, as mobilizações de rua tendem a esfriar. Isso, é claro, se não tivermos grande revelação nas investigações da Lava-Jato que represente reviravolta.

• Para o cientista político, governo ganhou ‘sobrevida’ e protesto passou a ter mais claramente o combate à corrupção como mote

SÃO PAULO — O cientista política e professor da FGV-SP, Oscar Vilhena, acredita que o governo da presidente Dilma Rousseff ganhou sobrevida nos últimos dias, e os protestos passaram a ter mais claramente o combate à corrupção como mote.

O GLOBO: Qual o reflexo das manifestações para o governo?

OSCAR VILHENA: Os últimas semanas, o governo conseguiu diversos apoios: atraiu uma parcela do PMDB e setores da economia e da imprensa, que entenderam que há uma saída política que passa pela governabilidade. Houve ainda o adiamento da decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) sobre as contas da presidente, o pedido de vista do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que adia decisão sobre o pedido de cassação da chapa Dilma/Temer, e o Supremo decidindo que as contas presidenciais terão que ser analisadas pelo Congresso e não só pela Câmara. Além disso, Dilma foi ao encontro da fala de (Michel) Temer, que disse ser preciso “alguém” para reunificar, e de Renan (Calheiros, presidente do Senado), que propôs uma agenda. Essa reconstrução da base, essa reorganização tira um pouco da energia das manifestações.

É como se o governo ganhasse fôlego?

Sim, ganhou sobrevida, mas a situação não é simples. Tanto (Eduardo) Cunha, que preside a Câmara, e é visto como um aliado por parte dos manifestantes, quanto Renan, que agora é visto como traidor, estão implicados na Lava-Jato. No mais, a agenda do Renan não é a agenda da CUT, assim como setores sociais querem coisas distintas do empresariado. Mas como não há grupo político para solucionar os impasses criados por Dilma, ela ganha espaço para solucioná-los. Mesmo tendo que conciliar interesses contrapostos.

Há um fio condutor nos protestos?

Parece claro que passaram a ter um tom mais específico de combate à corrupção, de apoio ao juiz (Sérgio) Moro e respaldando instituições como a Polícia Federal e o Ministério Público. Há um certo grau de consenso em relação a esses temas. E vimos a presença mais contundente do ex-presidente Lula. O “Fora, Dilma”, o apoio ao impeachment e o “Fora, PT” já estavam presentes nos outros protestos. Lula apareceu agora, talvez, também por conta da Lava-Jato. Havia um certo resguardo em relação a ele, mesmo no mensalão houve dissociação. Agora, parecem associar o PT ao Lula e aos atos de ilegalidade.

Neste domingo, pela 1ª vez, Aécio Neves (PSDB-MG) esteve numa manifestação.

Vejo a entrada do Aécio nos protestos como tardia, e ele não participou como líder, mas como cidadão. E escolheu Belo Horizonte, que é um palanque menos visível que São Paulo, Rio ou Brasília. A oposição não tem se apresentado com clareza como uma alternativa de poder.

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