• Durante o ato, palavras de ordem contra Lula, pedidos de impeachment e mensagens de apoio à Lava-Jato
- O Globo
-SÃO PAULO- Com pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff, palavras de ordem contra o ex-presidente Lula e mensagens de apoio à Operação Lava-Jato, cerca de 350 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, compareceram, na tarde de ontem, à terceira manifestação do ano contra o governo federal, em São Paulo. O ato, realizado na Avenida Paulista, teve público superior ao do protesto do dia 12 de abril, que reuniu 275 mil pessoas, mas inferior à da manifestação de 15 de março, quando 1 milhão de manifestantes saiu às ruas, de acordo com a PM.
“Lula nunca mais”, “Fora Dilma” e “A nossa bandeira jamais será vermelha” foram os principais gritos dos manifestantes ouvidos na Paulista. Não houve incidentes. Idosos e famílias com filhos, boa parte deles vestidos de verde e amarelo, eram a maioria entre os que circulavam pela avenida. O clima tranquilo permitiu que o comércio continuasse com as portas abertas durante a manifestação.
Camisetas vendidas a R$ 30
Com o calor, os vendedores ambulantes de cerveja puderam faturar. Camisas com a inscrição “Fora Dilma e leve o PT junto” eram vendidas por R$ 30 e faziam sucesso. Na hora do almoço, os shoppings e restaurantes da região ficaram cheios.
Os grupos organizadores se dividiram em nove carros de som em dez quadras da avenida. O hino nacional também foi cantado em coro algumas vezes. O Vem Pra Rua e o MBL foram os que mais atraíram público. Um grupo pequeno pedia a intervenção militar. Um outro grupo fez um panelaço em frente ao Masp. Alguns manifestantes levaram cartazes em inglês para avenida, com o objetivo de alertar a imprensa estrangeira que cobria o ato, sobre os problemas que o país enfrenta.
O discurso de feito em junho por Dilma, em que a presidente saudou a mandioca, foi alvo de paródias nos carros de som dos grupos que organizavam a manifestação.
Os irmãos Felipe Siansiulli, de 31 anos, e João Siansiulli, de 36 anos, eram uns dos muitos defensores do juiz Sérgio Moro na Paulista. Eles desfilavam com um cartaz com a foto do magistrado da Lava-Jato ao lado da frase: “Sérgio Moro, herói nacional”. Outros manifestantes abordavam a dupla para tirar fotos.
— Ele está tendo coragem de colocar na cadeia quem precisa pôr — afirmou João.
No carro de som do Vem Pra Rua um cartaz dizia: “O Brasil apoia a Lava-Jato”. O movimento colocou juristas para discursar com o objetivo de mostrar que há bases legais para o afastamento de Dilma.
— Somos contra o golpe que essa camarilha liderada pelo Lula e José Dirceu deu nos cofres do Brasil — discursou Miguel Reale Junior, exministro da Justiça, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Reale Junior pediu a renúncia de Dilma, apesar de dizer que o Congresso pode ser pressionado para abrir o processo de impeachment.
— Dilma, saia por favor. Nos liberte da camarilha — afirmou o jurista.
O líder do Vem Pra Rua, Rogério Chequer, também leu uma carta enviada pelo ex-petista Hélio Bicudo, que não pôde comparecer porque estava doente, em que ele acusava o governo de corrupção e de enganar o povo.
Para tentar mostrar que o ato não reunia apenas representantes da elite ou “coxinhas”, nas palavras de Chequer, foi chamado para discursar no caminhão do Vem Pra Rua um líder de uma cooperativa de catadores de lixo.
Já o Movimento Brasileiro Livre (MBL) levou para a Paulista, como também fez no Rio e em Brasília, uma bandeira gigante com as cores do Brasil e a palavra “impeachment”.
Ataques a Janot e Renan
Renato Batistta, um dos líderes do MBL que discursou, acusou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de fazerem “um acordo contra a saída de Dilma”. — Vão afundar com ela — afirmou Batistta. Vários cartazes pediam a saída de Janot e de Calheiros, mas o nome do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que recentemente decidiu romper com a presidente Dilma e pode decidir sobre o andamento dos pedidos de impeachment, não apareceu nos discursos.
Fernando Holliday, outro líder do MBL, atacou a propaganda do PT, veiculada no último dia 6, em que o partido dizia ser o responsável por colocar comida na mesa dos brasileiros. Para ele, o partido não pode fazer esse tipo de afirmação.
— O povo não é representado pelo PT e deseja não só o fim desse governo, mas o fim desse partido.
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