Por Fernando Torres, Cristiane Agostine, Flavia Lima, Natalia Viri, Simone Cavalcanti, Lucas Marchesini Letícia Casado, Sérgio Ruck Bueno, Alessandra Saraiva, Cristian Klein, Renata Batista - Valor Econômico
SÃO PAULO , BRASÍLIA, PORTO ALEGRE e RIO – As manifestações contra o governo da presidente Dilma Rousseff reuniram ontem 879 mil pessoas em todos os Estados da federação, além do Distrito Federal, número similar aos 701 mil registrados atos de 12 de abril, mas bem inferior aos 2,4 milhões de presentes em de 15 de março. Os números são projeções feitas pela Polícia Militar de cada estado, nas cidades em que este tipo de levantamento foi feito nas três ondas de atos.
As concentrações foram marcadas por maior presença partidária, com o comparecimento de diversos caciques tucanos e do DEM e uma mensagem clara pela renúncia ou impeachment da presidente e a investigação e eventual prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sob a alegação de que estaria envolvido na Lava Jato. Assim como ocorreu há alguns meses, o aprofundamendto da crise econômica não foi um tema presente nas manifestações. Predominaram as menções à Operação Lava-Jato, que apura o escândalo da Petrobras, e faltaram referências a problemas como inflação, desemprego e aumento das tarifas de serviços públicos.
Em São Paulo, epicentro das movimentações anteriores, compareceram 135 mil pessoas segundo o Datafolha, mais que os 100 mil de abril e abaixo dos 210 mil de março. Nos cálculos da Polícia Militar, que projetou nada menos que 1 milhão de pessoas em março, estiveram ontem na Avenida Paulista 350 mil presentes, um comparecimento mais expressivo que os 275 mil registrados em abril.
Fora da capital paulista, a manifestação com maior presença foi a de Curitiba, com 60 mil presentes, segundo divulgou a Polícia Militar local. Reduto contra o PT, a capital paranaense registrou este ano o maior distúrbio de rua no País, em uma manifestação de professores contra o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), em abril.
A maior manifestação em uma cidade do interior aconteceu em Ribeirão Preto (SP), outro reduto oposicionista. Protestaram na cidade 40 mil pessoas, de acordo com cálculo da Polícia Militar.
"Seja impeachment, cassação ou renúncia" era um dos lemas a dar o tom nas manifestações da Avenida Paulista. Principais grupos organizados da manifestação pela saída da presidente Dilma Rousseff em São Paulo, o Vem Pra Rua (VPR) e o Movimento Brasil Livre (MBL) tentaram afastar o estigma de que os protestos estão ligados apenas à elite. O VPR chamou para cima de seu carro de som manifestantes que vieram de cidades ou bairros mais periféricos da Grande São Paulo, como Ribeirão Pires e Capão Redondo.
"Chamam a gente de coxinha, de elite branca, mas não ligamos. A gente sabe que quem está aqui é o povo", disse aos gritos o empresário Rogerio Chequer, líder do VPR, no carro de som, antes de chamar ao microfone a líder da associação de catadores de lixo de Diadema, Maria Francisca.
Um pouco mais à frente, o MBL também rechaçava as críticas de elitização do movimento. "Querem invalidar [os protestos] nos chamando de coxinha, de elite. É o povo brasileiro que está aqui", afirmou, sob aplausos, uma das lideranças no carro de som.
Apesar da alegação de mais diversidade social nos protestos, o perfil geral dos manifestantes que tomaram a avenida era de uma maioria branca, de classe média ou alta e com a camisa da seleção brasileira ou com as cores da bandeira do Brasil.
Em Brasília, segundo a Polícia Militar do Distrito Federal, os protestos contra o governo federal reuniram cerca de 25 mil manifestantes. O número é semelhante ao apurado no protesto de 12 de abril e indica 5 mil participantes a menos do que o verificado em março deste ano.
A marcha, que se concentrou em frente ao Museu Nacional, na extremidade superior da Esplanada dos Ministérios, caminhou pacificamente até o gramado em frente ao Congresso Nacional.
Lá, os presentes foram surpreendidos por um boneco inflável enorme com a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido com uniforme de presidiário e uma bola de ferro amarrada no pé por uma corrente.
A camisa de Lula tinha a inscrição "13-171", numa referência ao número do PT e ao artigo do Código Penal que trata do crime de estelionato. Já a bola de ferro tinha uma menção à Operação Lava-Jato.
No Rio, a presença do público tornou-se um enigma. Nem a PM e nem os organizadores divulgaram estimativas sobre presença de manifestantes na orla de Copacabana. Mas pessoas presentes avaliavam que o contingente de pessoas se aproximava mais daquele calculado em 12 de abril, quando reuniu cerca de 10 mil pessoas, segundo a PM, e entre 20 e 25 mil pessoas, de acordo com os organizadores. Na primeira grande manifestação, em 15 de março, a PM estimou em 15 mil pessoas, e os líderes da mobilização em 100 mil pessoas.
Ainda na capital fluminense, assim como em São Paulo, o VPR ajudou a recolher assinaturas em prol de campanha nacional com propostas de mudanças na legislação para melhorar prevenção e combate à corrupção e impunidade. A campanha, lançada pelo Ministério Público Federal (MPF) e é batizada de "Dez Medidas Contra a Corrupção", e tem objetivo coletar 1,5 milhão de assinaturas em todo o país para que as propostas cheguem ao Congresso Nacional, por meio de um projeto de lei de iniciativa popular.
Em Porto Alegre, a manifestação chegou a reunir 30 mil pessoas neste domingo, informaram a Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul (SSP) e a Brigada Militar (BM). O número ficou abaixo dos 35 mil manifestantes do último protesto, realizado em abril, e dos 100 mil que haviam participado da primeira passeata, em março. Um dos coordenadores do Movimento Brasil Livre no Estado, o advogado Christiano Huber, discordou das avaliações oficiais e disse que cerca de 50 mil pessoas estiveram no ato de ontem, apesar do tempo fechado e de algumas pancadas de chuva.
Para o cientista político André César, sócio-diretor da Hold Assessoria Legislativa, a manifestação de ontem mostraria falta de capacidade política da oposição em capitalizar a rejeição crescente de Dilma. "À oposição falta uma cara, falta identificação, falta uma proposta factível e isso se reflete no cansaço das pessoas desse processo", disse.
Para César, o fato de o senador Aécio Neves (PSDB-MG) ter se apresentado no ato que ocorreu pela manhã em Belo Horizonte e não ter falado como representante do partido, mas como "mais um brasileiro" foi uma sinalização neste sentido.
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