- Folha de S. Paulo
• Ministro toma parte ainda maior na operação "água na fervura" e fala em meta fiscal melhor em 2016
O ministro da fazenda disse em reunião com os maiores banqueiros do país que o governo vai conseguir não apenas poupar o que prometeu em 2016, mas deve mesmo superar a meta de superavit primário.
Mais importante, porém, foi o sinal extra de que o governo inteiro faz agora o que pode para dizer "não me deixe só", para passar a impressão de que boa parte da elite do país quer "serenidade" e que o "golpismo" é um radicalismo minoritário.
Até amanhã, sábado, ao menos, terá dado certo. Domingo tem manifestação e segunda-feira ninguém sabe o que será, pois costuma ser dia de prisão da Lava Jato. A semana pode ser de denúncias de políticos do Petrolão –mas, quem sabe, as acusações formais derrubem apenas a turma que ora não se congraça com o Planalto, como o próprio governo tem vazado por aí, de forma suspeita (como é que eles sabem?).
Quanto à reunião dos banqueiros e ao ajuste fiscal, o assunto é, sim, grave, mas a gente acaba lembrando de um dos mais populares dos discursos convolutos e assintáticos da presidente, aquele de dobrar a meta inexistente que um dia terá sido atingida.
Dada a frustração absoluta da meta original para este ano, pode até ser que os economistas de Dilma 2 quiçá tenham reduzido suas ambições fiscais de modo exagerado para o ano que vem. Em vez de superavit de 1% do PIB, por aí, neste ano a conta deve fechar no zero. Para 2016, a meta original de poupar 2% do PIB das receitas foi rebaixada para 0,7%.
No entanto, pode ser que a Fazenda conte com a recuperação de algumas receitas muito frustrantes neste ano, com o fim do efeito negativo do pagamento dos papagaios deixados por Dilma 1 e com a aprovação de restos do ajuste fiscal, dado o novo clima de congraçamento com o Senado, por assim dizer.
De resto, não houve grande novidade na reunião de terça de Levy. Ou os banqueiros foram mais circunspectos, digamos, ao dar notícias do encontro do que o fazem quando tratam de dinheiro. O ministro falou da união da equipe econômica, de otimismo com o resultado final do trabalho do BC para levar a inflação a 4,5% e "deu apoio" a medidas econômicas da "Agenda Brasil" do PMDB. Reforma do ICMS com repatriação de dinheiros foi um tema; a ênfase na volta da cobrança de imposto sobre folha de pagamento sobre setores desonerados foi outro.
Pelos relatos dos banqueiros, publicados e ouvidos por este jornalista, há muita boa vontade com Levy. No mínimo, foi essa a mensagem que quiseram passar.
No mais, sensaborias político-diplomáticas inevitáveis e necessárias no exercício do cargo. Não seria em uma reunião com uma dúzia de pessoas, ainda que banqueiros, de costume pouco falantes, que o ministro falaria de assuntos delicados, de que pode tratar com uma chamada telefônica com qualquer um deles.
Mais notável foi, enfim, o fato de o ministro juntar, de uma hora para outra, a cúpula da banca, justamente nesta semana de ofensiva "água na fervura" da crise política. Quase no bico do corvo, Dilma Rousseff e seu governo enfim passaram a conversar, em termos políticos, até com banqueiros, escorraçados pela presidente em 2012, como bem se recorda, em sua campanha para baixar juros no grito.
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