Por Andrea Jubé, Lucas Marchesini e Cristiane Agostine – Valor Econômico
BRASÍLIA e SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta hoje a Brasília para um debate sobre o Plano Nacional de Educação (PNE). Na manhã de sábado, véspera dos protestos, deve se reunir com a presidente Dilma Rousseff. Ontem Dilma fez um desagravo público ao antecessor em encontro com movimentos sociais.
"Botar bomba em qualquer lugar não é diálogo", reprovou em menção implícita ao explosivo atirado contra o Instituto Lula. Petistas haviam feito críticas veladas a Dilma, que se limitara a publicar no Twitter uma repreensão tímida ao atentado contra o escritório político do ex-presidente.
A três dias dos protestos, Dilma recebeu o apoio de cerca de mil representantes de movimentos sociais no Palácio do Planalto, incluindo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e União Nacional dos Estudantes (UNE). "Não vai ter golpe", "fora, Cunha", e "fora, Levy" eram os gritos de guerra no salão nobre do Palácio do Planalto.
Sem citar expressamente as manifestações convocadas para domingo, Dilma reforçou o discurso em defesa de seu mandato, da democracia e por tolerância. "Temos que zelar pelo respeito que as pessoas que pensam diferente da gente tem que receber de nós. Mas diálogo é diferente de pauleira. Dialogo é dialogo, pauleira é pauleira", afirmou.
Sob críticas dos movimentos sociais à política econômica e ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Dilma fez a defesa do ajuste fiscal. Admitiu que não é possível "negar a realidade", que o país está passando "por momentos de dificuldade". "Não tem essa conversa que o governo vai sair gastando, agora o dinheiro vai para o que é mais importante, garantir que não tenha retrocesso".
Dilma reforçou, contudo, que tomará medidas "para que esse país volte a crescer o mais rápido possível". Ela disse que não está aqui "para resolver todos os problemas neste ano", mas para "entregar este país muito melhor no dia 31 de dezembro de 2018".
Em manifesto que será divulgado hoje, doze sindicatos, entre eles o dos comerciários de São Paulo, dos metalúrgicos do ABC e dos metalúrgicos da capital paulista afirmam que "é necessário desmontar o cenário em que prevalecem os intentos desestabilizadores".
As entidades dizem que é preciso ter "um claro posicionamento em defesa da democracia, do calendário eleitoral, do pleno funcionamento dos Poderes da República e dos fundamentos constitucionais".
Segundo o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah, ligado à UGT, o manifesto foi assinado pelos sindicatos e não pelas centrais sindicais para sinalizar que é um pedido das "bases".
A escalada de atos de intolerância no país, principalmente contra o PT, foi tema do café da manhã de Lula com Temer e senadores do PMDB. Na reunião, Lula declarou-se "surpreso" com a postura ofensiva do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele revelou encontro - até mantido em sigilo - com Cunha e Michel Temer em março em São Paulo.
A reunião, marcada por Temer a pedido de Lula, ocorreu depois que o nome de Cunha apareceu na lista de investigados da Operação Lava-Jato, elaborada pelo procurador-geral Rodrigo Janot. Naquela ocasião, o pemedebista se comprometera em manter uma postura "responsável", sem ameaças à "governabilidade".
Ainda na reunião com o PMDB, Lula disse que não se pode admitir que Temer faça duas vezes o mesmo compromisso com os aliados. A principal reclamação da base é que o governo não honra acordos.
Lula ressaltou que Dilma tem de fazer cumprir a palavra de Temer, que os acordos devem ser costurados entre a presidente e o vice, e não entre ministros. No mesmo encontro, segundo participantes, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) elogiou o apelo de Temer por unidade nacional, mas ressalvou que a palavra "alguém" soou inadequada. O vice disse que não retirava nenhuma palavra de seu pronunciamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário