No afã de salvar o mandato da presidente Dilma Rousseff e, por tabela, juntar os cacos do que resta de sua própria imagem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou a estratégia de fazer os brasileiros acreditarem que a crise pela qual o País atravessa não é produto da desastrosa administração de sua pupila. Lula admite que há dificuldades, pois negá-las seria demais até para um ilusionista como ele, mas agora deu para falar de Dilma como se ela presidisse outro país – ou, pior, como se ela fosse inimputável.
Falando em Brasília a uma plateia composta apenas por simpatizantes arregimentados por centrais sindicais e movimentos de sem-terra, com farto patrocínio estatal, Lula sentiu-se em casa para expor sua nova teoria. “Nós não vivemos o momento mais extraordinário do nosso país”, concedeu o ex-presidente. Para ele, no entanto, “não é uma dificuldade da presidenta Dilma” – isto é, a crise não resulta de sua incompetência. Ora, se a presidente da República não é a responsável pelo que acontece no País que governa, quem seria então? Lula responde: “É daquelas dificuldades que a gente não sabe quem criou”.
Como se sabe, a vitória tem muitos pais, enquanto a derrota é órfã. Quando o País apresentava bom desempenho, Lula e seus marqueteiros tratavam de reivindicar a paternidade do aparente progresso, como se fosse resultado apenas de seus eventuais acertos, inéditos “na história deste País”, e não de uma conjuntura internacional totalmente favorável ao Brasil. Agora que a economia nacional dá sinais de forte retração, com inflação em alta e desemprego crescente, os petistas querem fazer acreditar que a responsabilidade por esse estado de coisas é apenas de uma alegada deterioração no cenário externo, e não do festim fiscal patrocinado pelos delírios estatistas do PT.
Embora possa ser útil para a mitologia lulopetista, tal narrativa encontra sérias dificuldades quando confrontada com a realidade. Os Estados Unidos, epicentro da crise de 2008, já se recuperaram, enquanto a Europa, embora ainda enfrente o desafio de fazer sua economia deslanchar, voltou a crescer. A expansão média da economia mundial deve superar 3% neste ano. A China, embora sem o mesmo vigor de antes, deve crescer mais de 6%. Já no Brasil a perspectiva é de uma retração da ordem de 2% neste ano e de 1% no ano que vem, desempenho que vai totalmente na contramão da tendência mundial – e que levou as agências de classificação de risco a rebaixar a nota de crédito do Brasil, deixando o País sob o sério risco de perder o título de bom pagador.
“A crise não nasceu em Quixeramobim, não nasceu em Maceió, não nasceu em Brasília. A crise nasceu no coração dos Estados Unidos e hoje tem muita gente pagando por isso”, discursou Lula – aquele mesmo que, em outubro de 2008, disse que essa crise, se chegasse ao Brasil, viria apenas na forma de uma “marolinha”, e se dispôs até a telefonar ao então presidente americano, George W. Bush, para “prestar solidariedade”.
Para Lula, portanto, Dilma é apenas mais uma vítima dessa conjuntura – embora esteja já em seu segundo mandato e tenha ocupado Ministérios poderosos nos dois mandatos de seu padrinho – e se queixou de novo daqueles que, segundo ele, não se conformam que a eleição acabou e não descem do palanque. “Tem gente que joga a responsabilidade em cima da Dilma, dizendo que ela é culpada, mas essas mesmas pessoas que se apresentam como se tivessem a solução para os problemas do mundo esquecem que, quando eu cheguei à Presidência, esse País estava quebrado, dependia do FMI”, afirmou Lula, mais uma vez lançando mão de mistificação histórica para desmoralizar a oposição. De quebra, desmerece os mais de 70% que consideram o governo de Dilma ruim ou péssimo, conforme mostram as últimas pesquisas.
Já se vão mais de 12 anos de governos petistas, quatro e meio dos quais com Dilma na Presidência, mas Lula acha que ainda é cedo para julgar a administração de sua sucessora. “Não julguem a Dilma por seis meses de mandato, porque ele é de quatro anos”, disse o chefão do PT, sugerindo que a “obra” de Dilma ainda não está completa. Pobre Brasil!
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