-Folha de S. Paulo
A existência ou não do vácuo pautou um dos mais encarniçados debates da história da filosofia e, depois, da física. Até hoje a matéria é controversa. Mas, se não dá para afirmar peremptoriamente, como o fez Aristóteles, que a natureza tem horror ao vácuo, é seguro afirmar que a política tem.
À luz desse princípio, parece improvável que o estado de esfacelamento do governo Dilma Rousseff possa se prolongar indefinidamente. Ou bem a crise se resolve com o afastamento da presidente (por impeachment, cassação ou renúncia), ou com a convergência de diferentes forças políticas em torno de uma agenda mínima que lhe dê condições de terminar o mandato, ainda que sangrando em praça pública. Não acho que o governo do PT valha uma lágrima, mas prefiro a segunda opção, por entender que ela é mais didática para o eleitor: votos têm consequências. Seja como for, a perspectiva é que, em algumas semanas, tenhamos mais clareza de para qual lado a balança vai pender.
Isso nos coloca numa situação algo paradoxal. Podemos nutrir um certo otimismo em relação ao curto prazo, mas não em relação ao longo. Eu explico. Assim que a confusão política desanuviar um pouco, a encrenca econômica também dá uma melhorada. Basta sinalizar que as pautas-bomba desaparecerão e o país perseguirá de verdade um superavit primário para reduzir a incerteza e, assim, serenar as expectativas.
Meu pessimismo de longo prazo vem do fato de que não vejo muita chance de o país, particularmente o Congresso, tentar resolver os problemas estruturais que continuarão travando a economia. Nenhum político parece muito disposto a discutir seriamente a necessidade de aumentar a idade da aposentadoria ou rever subsídios insustentáveis, como a zona franca de Manaus, entre vários outros. Para agravar o que já é ruim, vale lembrar que nosso bônus demográfico já está se esgotando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário