Por Andrea Jubé - Valor Econômico
BRASÍLIA - Contrariando recomendações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff tem se distanciado do vice-presidente Michel Temer, presidente nacional do PMDB. Dilma e o pemedebista não se reúnem, reservadamente, desde a reforma ministerial, há mais de 45 dias, e têm se falado por interlocutores. O último encontro, na presença de ministros, foi em uma reunião da coordenação política há três semanas.
Dilma e Temer nunca foram próximos. A relação cortês estreitou-se quando ele assumiu a função de coordenador político do governo em abril, num dos momentos mais agudos da crise política. Mas, no auge da instabilidade, quando o impeachment avizinhou-se e Temer declarou que era preciso alguém que "reunificasse" o país, os cristais trincaram de ambos os lados.
A última vez em que ambos se reuniram a portas fechadas foi em 1º de outubro, quando definiram os novos ministros do PMDB, que ampliou sua cota na Esplanada para sete pastas. A última vez em que participaram de uma reunião juntos foi em 26 de outubro, na coordenação política. Depois disso, Temer ausentou-se por duas reuniões: na primeira vez, porque ficara em São Paulo. Depois, embarcou para uma visita oficial a Angola.
Coube ao ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, repassar ao vice o pedido de Dilma para que ele comandasse a reunião da coordenação política dessa segunda-feira, já que ela estava ausente, na Turquia, no encontro do G-20.
Nenhum auxiliar de Dilma apreciou o congresso do PMDB realizado ontem, em que lideranças da sigla desfiaram críticas ao governo e defenderam o rompimento da aliança antes do final do mandato em 2018. Mas Temer já havia mostrado à presidente, e ao ministro Joaquim Levy, o plano econômico que o PMDB começou a discutir ontem.
A renúncia de Temer à coordenação, alegando que já conseguira aprovar o ajuste fiscal no Congresso, coincidiu com a assunção do PT à coordenação política do governo, colocando à prova o tripé formado por Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Giles Azevedo. Foi um "teste" para o desempenho do PT nas votações relevantes no Congresso, diz um pemedebista próximo ao vice.
Mas uma fonte do palácio ressalta que tanto Wagner quanto Berzoini mantêm relacionamento próximo a Temer. Foi Wagner quem pediu ao vice que promovesse um almoço no Palácio do Jaburu com os presidentes das duas Casas legislativas, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Era o dia 14 de outubro, e Cunha ameaçava assinar o requerimento de impeachment.
Num jantar recente com jornalistas na casa da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), Temer disse que mantém boa relação com Dilma no plano pessoal. Mas ele tem seus pruridos e excesso de formalidade.
Na recente visita do príncipe herdeiro da Noruega, Haakon, Temer não quis usar o gabinete de Dilma para receber o integrante da família real europeia, para evitar especulações de que estaria tentando posar de presidente da República na ausência da titular, embora fosse o mandatário no exercício da Presidência.
À imprensa, disse que evitou o gabinete de Dilma por uma "questão de gênero", pois não se sentiria à vontade de invadir o espaço de uma mulher. "É um pequeno preconceito meu, mas a favor", justificou. "Eu entrar na sala dela, sentar à mesa dela, pareceu-me inadequado".
Temer voltou, na ocasião, a se explicar sobre a declaração que provocou a desconfiança de Dilma e do PT. Ele disse que a intenção era que alguém pudesse lançar uma mensagem de reunificação do país.
"Que se reúnam para impedir o desastre, mas esse alguém foi interpretado como sendo eu, e não era". Temer relata que, após o ocorrido, Dilma lhe disse: "não se preocupe com isso, te conheço". Mas, para dilmistas, a frase continua mal explicada.
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