- O Globo
Houve de tudo na convenção do PMDB ontem, até mesmo quem defendesse o governo da presidente Dilma, mesmo que o clima fosse de clara dissidência, a começar pelo programa “Uma ponte para o futuro”, que reflete proposta de um governo liberal, diametralmente oposta à do PT, claramente estatizante.
Dilma teve a confirmação de que pode contar com o diretório regional mais influente do partido, o do Rio de Janeiro, que deixou de enviar seus principais líderes, como o governador Pezão e o prefeito Eduardo Paes. Embora o programa de governo, que mais parece um manifesto oposicionista, tenha sido elaborado por outra liderança do Rio, o ex-governador e ex-ministro Moreira Franco.
PT e PMDB formam a base parlamentar de Dilma, mas a prática governamental não atende a nenhum dos programas já apresentados. O do PMDB é uma proposta de governo a ser implementada caso o vice Michel Temer chegue à Presidência da República, com o impedimento de Dilma.
Segundo uns, como o senador Roberto Requião, é um cavalo de Troia que destruirá o PMDB. Outros o veem como uma proposta para o país a qualquer tempo, até mesmo agora, se a presidente Dilma aceitasse.
Alguns pontos são historicamente polêmicos, como o que estabelece um limite para as despesas inferior ao aumento do PIB. A presidente Dilma, quando chefe da Casa Civil, chamou essa proposta de “rudimentar” quando apresentada pelo ministro Antonio Palocci, e, pelo que realizou em seu primeiro governo, não parece ter mudado de ideia.
Ou defende as privatizações e concessões. O vice Michel Temer tentou a todo custo retirar da convenção e do próprio programa um tom de dissidência aberta, garantindo que o PMDB não está saindo do governo. Pela História do PMDB, vai prevalecer a ala que quer permanecer no governo até o momento em que os ventos mudarem de lado, se mudarem.
O PMDB vai tentar sugar os recursos do governo enquanto existir essa possibilidade, mesmo que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tenha exortado seus pares a não se deixarem calar “por alguns carguinhos”.
Em outros tempos, o discurso de Cunha pregando o rompimento com o governo teria maior impacto.
Ontem, provocou algumas vaias e algum desconforto aos que ainda se incomodam em tê-lo na presidência da Câmara. Mas ainda não chegou o dia de abrir mão desses “carguinhos”. Quando chegar, haverá uma corrida peemedebista para a oposição, porque terão farejado a hora de Michel Temer assumir a Presidência devido ao impeachment de Dilma.
O PMDB está saindo aos poucos, buscando uma saída honrosa. Desse ponto de vista, o programa da Fundação Ulysses Guimarães é o melhor instrumento para dar ao partido ares de preocupação institucional com o futuro do país.
Assim como o governo do PT é historicamente cheio de incongruências, também o programa do PMDB revela as divergências internas do partido, mas é um bom sinal que tenha prevalecido até o momento a tendência modernizadora.
O programa sofrerá alterações vindas de todas as seções regionais, até se transformar num documento oficial que será apresentado ao governo. Como a tendência é não ser aceito, vai se transformar em uma proposta de governo caso Michel Temer chegue à Presidência. Ou sinalizará o caminho que um futuro candidato do partido, que segundo Temer “está sendo montado”, deverá adotar na campanha de 2018.
O PMDB vai testando seus movimentos, esticando a corda até ver onde dá. Se não der para mudar, ficarão onde estão, porque, com sete ministérios e a Vice-Presidência, está bom.
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