quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Dora Kramer: Nó em pingo d'água

- O Estado de S. Paulo

O encontro que reuniu ontem representantes de todos os diretórios regionais do PMDB para, em tese, debater uma proposta própria para a superação da crise econômica elaborada pela direção, foi o que se pode chamar de uma contradição em termos.

Enquanto a base só queria saber de pregar o rompimento com o governo e o afastamento o quanto antes do PT, a cúpula se fingia de desentendida fazendo de conta que a reunião tratava exclusivamente de assuntos programáticos de natureza econômica, sem qualquer relação com a realidade política. Senão do impeachment – palavra evitada pela maioria –, certamente do desejo e da necessidade de o partido firmar independência em relação ao Palácio do Planalto.

Quem no PMDB é favorável à permanência da aliança com o PT ou não foi ao encontro ou calou-se.

Todos os representantes dos diretórios que falaram nas três salas de debates – uma para discutir o documento “ponte para o futuro”, outra para debater a renovação do estatuto e uma terceira aberta a manifestações de ordem geral – manifestaram-se em prol do rompimento. Essas vozes não tinham o poder de decidir nada, mas a elas foram abertos microfones para que dissessem o que a direção do partido ainda não quer e não pode dizer.

A contradição residiu no fato de o partido discordar profunda e completamente na condução do governo e, ao mesmo tempo, sua direção reafirmar que continua no governo, com sete ministros e dizendo que assim permanecerá até que o partido delibere em contrário.

Pois bem, a última decisão oficial do PMDB foi tomada na convenção do PMDB em 2014, que decidiu pela manutenção da aliança e pelo apoio à reeleição da presidente Dilma. É esta que está valendo, do ponto de vista formal. Portanto, formalmente o PMDB é sócio do atual governo e, em decorrência, de suas de decisões.

O partido argumenta, contudo, que nunca foi consultado sobre as diretrizes de governo. É verdade, mas não foi ouvido desde o começo. Já se passarem quase seis anos, para levar em conta só o governo Dilma. Nesse meio tempo, a despeito de reclamações aqui e ali, o PMDB nunca tomou uma posição. Resolveu tomar agora que o governo está péssimo.

Teria assumido a mesma atitude se a presidente estivesse popular, nadando de braçada? Um palpite: não, com toda e absoluta certeza.

Mínimo detalhe. O encontro do PMDB estava inicialmente marcado para o dia 15 de novembro, data simbólica da Proclamação da República. Foi adiado em dois dias para que não coincidisse com viagem internacional da presidente Dilma.

Até ontem, poucas horas antes do evento, o vice Michel Temer estava no exercício da Presidência o que, de um lado daria margem a especulações conspiratórias e, de outro, poderia resultar em críticas ao senso de oportunidade do vice.

O PMDB preferiu remarcar.

Fava contada. A frase da presidente Dilma Rousseff – “Levy fica onde está” – sobre a permanência do ministro da Fazenda no cargo carece de um complemento: fica até quando?

Na avaliação de um líder do alto escalão governista no Congresso, até se dissipar a impressão de que a saída de Joaquim Levy representa a entrega definitiva do comando ao ex-presidente Lula e surgir a oportunidade para que a presidente possa denotar independência e autoridade na decisão.

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