• Agressões do candidato a prefeito à mulher não podem ser consideradas fatos da vida privada do casal, devido à atuação pública do agressor
Toda vez que um político comete um deslize pessoal, a imprensa se depara com a questão ética de saber até onde vai o interesse público na publicação do fato. E quando a imprensa profissional decide noticiá-lo é porque considera que políticos e celebridades em geral, se usufruem os prazeres da notoriedade, também pagam o preço de abdicar, em grande medida, do direito à privacidade. Queiram ou não.
É o que acontece com o secretário de Governo do Rio e candidato do prefeito Eduardo Paes a substituí-lo, Pedro Paulo Carvalho. Mesmo que Paes não o houvesse lançado, já seria algo jornalisticamente importante a existência de dois boletins de ocorrência policial, lavrados em 2008 e 2010, sobre agressões físicas de Pedro Paulo contra sua então mulher, Alexandra Mendes Marcondes, mãe de uma filha do casal. Com a escolha do secretário, pelo próprio Paes, para ser o candidato do PMDB em 2016, as agressões ganharam mais relevância.
O secretário, na tentativa de reduzir danos, chegou a promover uma entrevista coletiva, ao lado da ex-esposa, para limitar a dimensão do ocorrido a uma desavença usual entre marido e mulher. Houve até mesmo, da parte de Alexandra, a clássica reclamação de que a imprensa não os deixa em paz. Nada a estranhar, pois se trata de reação comum nessas circunstâncias Na plateia da entrevista, o atual marido de Alexandra e a nova mulher de Pedro Paulo a tudo assistiam de mãos dadas, na torcida para que a decisão de receberem os repórteres desse certo. Parecem participar do projeto de ascensão política do secretário.
Logo depois, ao GLOBO, Eduardo Paes explorou a mesma linha da privacidade do casal. “Quem não tem uma briga dentro de casa?”, argumentou o prefeito, repetindo pergunta feita por Pedro Paulo dias antes.
— Aspectos da vida dele, das brigas, do casamento, são um problema dele — afirmou o prefeito. Grande engano, dada a dimensão pública que passou a ter Pedro Paulo Carvalho na condição de candidato preferido do prefeito.
Paes e seus estrategistas políticos não devem menosprezar a crescente repulsa da sociedade à agressão a mulheres, um traço do machismo pátrio, e que tem na Lei Maria da Penha um fruto concreto dessa repulsa.
O prefeito garante não ter um “plano b” para substituir Pedro Paulo. Mas precisaria. O cargo de prefeito do Rio não é qualquer: trata-se de uma cidade complexa, há muitos problemas no cotidiano do prefeito que necessitam de um alcaide com equilíbrio emocional. E não parece ser este o perfil de Pedro Paulo.
Nos Princípios Editoriais do Grupo Globo, uma explicação para darmos atenção ampla a políticos e equivalentes é que “aspectos de suas vidas privadas podem ser relevantes para o julgamento de suas vidas públicas" (...). É seguro que o eleitorado faz o mesmo
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