Por Thiago Resende e Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - Aos gritos de "Brasil prá frente, Temer presidente", o PMDB deu a largada ontem no projeto para lançar uma candidatura presidencial própria em 2018 ou voltar ao Palácio do Planalto antes disso, na eventualidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff. O vice-presidente respondeu aos militantes: "Ainda não, em 2018".
Mais tarde Temer ainda tentou consertar, mas sem muita convicção: "Vamos esperar 2018. Vamos montar um candidato, um grande nome do PMDB. [...] Estou encerrando minha vida pública", afirmou. Segundo ele, o candidato do PMDB para a corrida presidencial será conhecido apenas no ano eleitoral. "2018 só em 2018", declarou.
O lançamento do nome de Temer ocorreu durante a divulgação do documento "Uma Ponte para o Futuro", que servirá de base para a candidatura presidencial. Encarado com desconfiança pelo Palácio do Planalto, pode-se afirmar que o encontro foi uma espécie de "batalha de Itararé". O governo fez o que pode para esvaziar o encontro do PMDB, mas todos os diretórios mandaram representantes para a reunião.
Na última hora, os dirigentes do PMDB também suavizaram o tom dos discursos, Segundo os organizadores, havia 44 representantes de movimentos pró-impeachment de Dilma - alguns deles ligados ao presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha.
Mesmo com baixos índices de aprovação, o governo mostrou sua força: os sete governadores do partido não compareceram ao encontro. Mas dos sete ministros, apenas três deixaram de comparecer: Kátia Abreu (Agricultura), Eduardo Braga (Minas e Energia) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia). Dos presentes, apenas Eliseu Padilha (Aviação Civil) discursou, mas sem as críticas ao governo que deram o tom à reunião.
O objetivo do PMDB é começar a se desgarrar do PT na eleições municipal de 2016 e disputar com nome próprio em 2018. No meio do caminho há o impeachment, um assunto sobre o qual seus líderes não evitam comentar, inclusive por estar às vésperas de decisões na Câmara dos Deputados e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Na véspera do encontro, a senadora Marta Suplicy (SP), que recentemente trocou o PT pelo PMDB, ofereceu um jantar em sua casa ao vice-presidente Michel Temer, àquela altura presidente da República, pois Dilma ainda não reingressara em território nacional. No PT, Marta liderou o movimento "Volta, Lula". No PMDB, não esconde sua simpatia pelo impeachment. O assunto circulou de mesa em mesa, mas sempre contornado com habilidade por Michel Temer.
O PMDB, no entanto, está preparado para assumir a presidência da República, na hipótese de vagar a cadeira de Dilma. Uma das possibilidade é via um processo de impeachment no Congresso Nacional, cuja abertura está nas mãos do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Ao chegar ao encontro do PMDB, o deputado não foi propriamente hostilizado, mas houve um constrangedor início de vaia.
Isso em um ambiente dominado por militantes que carregavam um boneco de Dilma e faixas com os dizeres "Temer Vista a Faixa Já". Nenhum dos outros mencionados na Lava-Jato, como o presidente do Senado, Renan Calheiros, foi constrangido pela plateia como Cunha. Seu antigo aliado, o líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani, não compareceu.
A outra hipótese de Dilma ser impedida de continuar no cargo é a impugnação da chapa eleita em 2014. Neste caso, o PMDB deve recorrer até o Supremo Tribunal Federal (STF), se for o caso, pois o entendimento de seus advogados é que a presidência e a vice são figuras jurídicas distintas, cada qual com suas contas e campanhas. Além disso, a sigla pretende argumentar que ninguém pode ser punido por um crime cometido por outro pessoa. Se a chapa for impugnada, o primeiro recurso do PMDB será para que sejam mantidos os diplomas dos dois.
O tom crítico ao governo no encontro pode ser medido por uma frase do deputado Lúcio Vieira Lima (BA): "O PMDB não tem dono", disse, repetindo um dos slogans da reunião, "mas está alugado", acrescentou, numa referência a que o partido é parte governo e parte oposição. "O afastamento não será aqui. Hoje é o caldo de cultura que engrossa um pouco mais", disse o ex-ministro Geddel Vieira Lima, irmão de Lúcio.
O presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, resumiu em uma frase as críticas tanto aos opositores internos do PMDB como as queixas feitas pelo PT contra seu parceiro. "Nosso documento tem os mesmos fundamentos macroeconômicos da carta aos brasileiros", que Lula lançou em 2002 para acabar com as desconfianças que o empresariado à época tinha sobre sua candidatura. "Entre ela e o documento 'Uma Ponte Para o Futuro' há vários traços em comum", disse Moreira. "Ambos surgiram para dar resposta a crises de confiança e, em decorrência delas, a escolhas equivocadas e crises econômicas, ambos trabalham com as mesmas premissas para retomar o desenvolvimento do país.
Prudente, Temer procurou evitar um tom de disputa com o Planalto: o PMDB "não vai sair para lançar um candidato próprio na eleição presidencial de 2018. "Queremos fazer do PMDB um partido. Partido que vem de parte. Uma parcela da opinião pública que pensa de uma maneira e quer chegar ao poder. Então nós estamos fazendo algo que não se fez, penso eu, ao longo do tempo", afirmou.
Temer classificou como "natural" uma ala da sigla pedir o rompimento com o governo da presidente Dilma Rousseff. " Mesmo essas pessoas que querem a saída do governo, querem colaborar com o país e este programa que estamos fazendo é um programa para o país", observou. o deputado Eduardo Cunha também defendeu a elaboração doo projeto. "O PMDB não pode se furtar de debater seu destino", disse. "O partido terá candidato próprio em 2018. Isso é inevitável".
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