- O Estado de S. Paulo
Michel Temer e Henrique Meirelles, que estão no olho do furacão, conversaram animadamente em São Paulo na última sexta-feira. Orelhas arderam, mas nenhum dos dois disse, nem diria, quais e de quem. Por isso, a versão é de que Temer lhe apresentou pessoalmente o novo programa do PMDB, “Uma ponte para o futuro”, e Meirelles adorou. Detalhe: o documento é o oposto do que o PT defende.
Como vice-presidente, Temer é sucessor natural de Dilma Rousseff caso seja aprovado o impeachment ou ela se afaste. E, como ex-presidente do Banco Central de Lula, Meirelles é candidatíssimo a ocupar o Ministério da Fazenda. Convenhamos que uma conversa entre eles, neste momento, é deveras instigante.
Cauteloso, Temer sumiu das manchetes nos últimos dois meses, depois que, a cada frase sua, tinha de passar dias se explicando para Dilma, o PMDB e a opinião pública. Mas ele não está parado e, como professor de Direito Constitucional, sabe bem quais são seus direitos e deveres como vice, contratou advogado e já tem pronta a argumentação para entrar com recurso extraordinário no Supremo e escapar da guilhotina caso o TSE casse o mandato de Dilma.
Com prefeitos e governadores, cai a chapa toda. Com presidentes, segundo o arrazoado de Temer, é tudo diferente. Como diria José Genoino, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. O CNPJ da campanha do PT foi um; o do PMDB foi outro. A presidente fez um juramento de posse; o vice fez outro. E a Constituição tem dois artigos sobre a, digamos, “separação de responsabilidades”: se o titular cai em dez dias, o vice assume; e ninguém é obrigado a pagar pelas mazelas de outrem.
Independentemente dessas formalidades, o impeachment de Dilma subiu no telhado e, até por isso, ou principalmente por isso, Temer fez um discurso crítico ontem no congresso do PMDB, mas nada que sugerisse rompimento. Tratou de, na medida, se distanciar das crises e mostrar que, também entre PT e PMDB, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, enquanto pemedebistas gritavam “Brasil pra frente, Temer presidente” e ostentavam bonequinhas nada elogiosas com a cara de Dilma.
Se as chances de Temer virar presidente parecem ter diminuído muito nas últimas semanas, as de Henrique Meirelles assumir a Fazenda são duvidosas desde o início. Ele tem Lula, mercados e a área financeira do próprio governo, mas não tem o principal: a simpatia de Dilma. Ela sabe que, se trocar Joaquim Levy por Meirelles, seu governo acaba no ato do anúncio. Depois de ceder tudo a Lula na última mexida ministerial, só falta dar a economia a Meirelles para sofrer um impeachment branco, com Lula de volta.
Hoje, a melhor aposta é que Levy não terá vida longa, mas seu substituto não será Meirelles. Além do fator Lula e da antipatia mútua entre ele e Dilma, há um terceiro obstáculo: Meirelles só aceitaria o cargo com carta branca para refazer a equipe econômica e para não ceder a pressões populistas – nem mesmo as do próprio Lula. Parece bem difícil.
Então, o que o ex-quase-futuro presidente Temer e o ex-quase-futuro ministro da Fazenda podem ter conversado? Sei lá, mas podem ter falado de uma dupla solução, com um herdando a Presidência e o outro, aí, sim, assumindo o comando da economia.
Vai ver, aliás, que é justamente por isso que o senador José Serra – que anda bem próximo de Temer – acaba de dizer a empresários que não se lembra de presidente do BC “tão ignorante ou comprometido com especulação cambial como esse senhor”. Quem é “esse senhor”? Henrique Meirelles.
Temos, assim, que o impeachment parece cada vez mais longe e Temer, cada vez mais fadado a ser vice até 2018, mas já há (ou ainda há) quem dispute a tapas um futuro e muito eventual cargo de rei da economia. Cada uma que acontece...
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