- O Estado de S. Paulo
Se alcançarem o objetivo de tomar o lugar de Dilma Rousseff, Michel Temer e seu PMDB não terão vida fácil com a opinião pública. Pesquisa inédita do Ibope – e divulgada aqui com exclusividade – mostra que 40% dos brasileiros acreditam que o vice faria um governo ruim ou péssimo (17% + 23%). Pior para ambos, só 13% acham que seria ótimo ou bom (3% + 10%). Outros 31% apostam em um governo regular, e 16% não souberam dizer.
A pedido da coluna, o Ibope também perguntou aos brasileiros se eles acham que um eventual governo Temer será melhor, pior ou igual ao governo Dilma. O resultado é ainda mais desconcertante para o PMDB. A maior parte acredita ser uma troca de seis por meia dúzia: 43% disseram que seriam governos iguais; 24%, que Temer seria pior do que Dilma; e 23%, que o vice melhoraria em comparação à titular. Os outros 10% não souberam responder.
Como só 9% da população avalia o governo Dilma como bom ou ótimo (segundo outra pesquisa do Ibope, divulgada pela CNI), significa que a maioria dos brasileiros acha a perspectiva de um governo do PMDB liderado por Temer, no mínimo, tão ruim e, no limite, até pior do que o do PT de Dilma. Diante de futuro tão pouco promissor, é fácil entender a perda de ímpeto das manifestações pelo impeachment da atual presidente.
Os poucos milhares que foram às ruas domingo defender a saída de Dilma são menos pessimistas sobre o que aconteceria se Temer chegasse ao poder, mas nem tanto. Segundo pesquisa Datafolha entre quem foi protestar na Avenida Paulista, em São Paulo, só 19% acham que Temer faria um governo bom ou ótimo, contra 28% que apostam em algo ruim ou péssimo. Comparando-se Ibope e Datafolha, verifica-se que o descrédito do vice é 12 pontos maior entre os que ficaram em casa no domingo passado.
Não faltam motivos para a população estar tão descrente de um governo do PMDB. O partido divide a gestão federal com o PT desde 2004. E suas principais lideranças – como a Operação Catilinárias da Polícia Federal evidenciou – estão no mesmo barco de investigados que os demais condôminos do poder.
Como cereja do bolo, há Eduardo Cunha, com quem Temer tem se reunido regularmente. Suas atitudes como presidente da Câmara dos Deputados, se transpostas para um seriado de TV, resultariam em algo tão inverossímil que o transformaria de série dramática em programa de terror pastelão.
Resta ver quantos ministros do Supremo Tribunal Federal acompanham House of Cards Brazil e irão acolher o pedido da Procuradoria-Geral da República para afastar Cunha do cargo. Na hipótese de o castelo de cartas de Cunha cair, Temer perderia um aliado importante, mas lhe restaria um consolo. Caso o impeachment de Dilma prospere mesmo sem a mãozinha dada por Cunha, sua legitimidade teria menos motivos para ser contestada.
Depois do voto do relator Edson Fachin obrigando o Senado a seguir eventual decisão da Câmara pelo impeachment e afastar Dilma antes de julgá-la, diminui a chance de o resto do STF deixar o destino da presidente nas mãos de Renan Calheiros e dos 80 senadores. O foco voltaria aos 342 votos de deputados federais que a oposição precisa para afastar Dilma.
Isso seria um problema para a presidente, especialmente se essa votação ficar para depois do carnaval. Nem a impopularidade e falta de credibilidade do PMDB e de Temer fazem refrear o desejo da maioria da população pelo impeachment de Dilma. Dois em cada três brasileiros continuam apoiando a perda do mandato: 67% a favor, 28% contra. O resto não respondeu ao Ibope.
Logo, quanto mais tempo os deputados passarem longe de Brasília, em contato com seus eleitores durante o recesso parlamentar, maior pressão sofrerão. O tempo voltou a contar contra Dilma.
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