• Testemunhas ligam Lula ao tríplex que está sendo investigado pela força-tarefa
Depois de mudar depoimento e isentar o ex- ministro José Dirceu da indicação do ex- diretor da Petrobras Renato Duque, o lobista Fernando Moura recuou ontem, sustentou que mentiu ao falar pela segunda vez e disse ter recebido “ameaça velada”. O juiz Sérgio Moro vai interrogar Dirceu hoje. Quatro testemunhas ouvidas pelo MP de São Paulo ligaram o ex- presidente Lula ao apartamento tríplex em Guarujá que está sendo investigado pela Lava- Jato. A associação de juízes federais divulgou carta em defesa dos magistrados da Lava- Jato e da Zelotes.
Delator agora diz ter mentido a Moro e fala em ‘ ameaça velada’
- Mudanças no depoimento podem prejudicar a defesa de Dirceu
Renato Onofre - O Globo
- SÃO PAULO- O lobista Fernando Moura disse ontem ter mentido durante depoimento à Justiça do Paraná porque se sentiu ameaçado. Ele diz que um dia antes de falar ao juiz Sérgio Moro foi abordado por um desconhecido que questionou sobre sua família. O lobista afirmou que foi uma “ameaça velada”. As idas e vindas na versão de Moura põem em risco a estratégia da defesa do ex-ministro José Dirceu. Em agosto em seu depoimento de delação premiada, Moura disse que Dirceu indicou Renato Duque para a diretoria da Petrobras. Na última sexta, Moura afirmou que Duque fora, na verdade, indicado pelo diretório do PT em São Paulo e que Dirceu deu a palavra final. A defesa de Dirceu queria usar essa última versão para livrar o ex-ministro de responsabilidade na escolha de Duque. Para a força-tarefa da Lava- Jato, a credibilidade do depoimento do lobista está em xeque.
— Errei feio. Errei muito feio — disse ele, ao afirmar aos procuradores que havia mudado sua versão no depoimento a Moro:
— Todo o acordo de delação premiada que assinei integralmente está correto. Apesar de ter afirmado ao juiz Sérgio Moro que não tinha lido e assinado. Eu confirmo ele na íntegra.
O lobista voltou a ser ouvido ontem à tarde pelo Ministério Público Federal em um procedimento de apuração de violação do acordo. Aos investigadores, Moura pediu desculpas por colocar a credibilidade da Lava- Jato em xeque.
O lobista havia dito ao juiz não ter falado nada do que estava na delação.
— Falei isso? — questionou Moura.
Moro disse que sim e o lobista respondeu rindo:
— Assinei isso? Se eu falo e depois é colocado no papel, eu nem leio. Eu até pergunto para o advogado, é isso aqui?
Na última sexta-feira, ao juiz Sérgio Moro, o lobista disse que o ex- ministro José Dirceu nunca tinha pedido para ele sair do Brasil quando o escândalo do mensalão veio à tona. Ontem, ele manteve a versão de sua delação premiada em que garante que o petista lhe deu “uma dica" para deixar o país. Ele relatou que combinou com o ex- diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque um “cala boca” para não falar do escândalo.
— Fiquei quatro meses fora — disse ele ontem.
Moura tentou justificar a mentira afirmando que se sentiu ameaçado quando passava por uma rua em Vinhedo, no interior de São Paulo, onde Dirceu tem casa. O delator diz ter sido abordado por “um homem branco, de 1,85m de altura, aparentando ter uns 40 anos” que perguntou como estavam os seus netos:
— Eu interpretei que houve uma ameaça velada dessa pessoa. De alguém envolvido neste processo — relatou.
Ao ser interrogado sobre quem o teria ameaçado, o lobista não soube dizer. Ele relatou aos investigadores que, desde que foi deflagrada a 17 ª fase da Lava- Jato, batizada de Pixuleco, só uma pessoa o procurou para falar sobre o caso. Segundo ele, Roberto Marques, ex-assessor de Dirceu, pediu para que ele não citasse a participação do ex- secretário geral do PT, Silvio Pereira, no esquema. O pedido teria sido feito quando os dois dividiram cela em Curitiba.
— Tinha um pedido para não falar do Silvio. E quem pediu foi o Roberto Marques.
O lobista deve voltar ao banco dos réus hoje em novo depoimento a Moro a pedido do MPF. Diante da mudança de versão, seus advogados renunciaram à defesa.
Além do lobista, o juiz Sérgio Moro vai ouvir hoje à tarde o depoimento de Dirceu e do ex-vice-presidente da Engevix, Gerson Almada.
Ainda ontem, a defesa de Dirceu tentou, sem sucesso, adiar o depoimento do ex- ministro a Moro. O advogado Roberto Podval encaminhou uma petição pedindo para saber se Duque está fazendo delação. Podval alega que as supostas informações do ex-diretor da Petrobras poderiam influenciar no depoimento de Dirceu. Moro negou.
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