sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Ricardo Noblat: Com Dilma não tem saída

- Blog do Noblat/O Globo

Cobram da presidente Dilma Rousseff o que ela não pode dar nem mesmo que quisesse.

Em artigos e entrevistas recentes, o ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto, cobrou que ela assuma de fato a presidência da República, propondo ao Congresso uma série de reformas para tirar o país do buraco. Uma das reformas: a da Previdência Social. Outra, a trabalhista. Não bastam. Mas seria um bom começo ou recomeço.

Em resposta a Delfim, a economista Maria da Conceição Tavares, alinhada com o PT, acusou-o de ter saudade da ditadura militar de 64, à qual serviu diligentemente em vários governos. Disse que sem apoio político, Dilma nada poderá fazer. E citou o PMDB como um partido esfrangalhado, incapaz de garantir votos para aprovar as reformas no Congresso.

A economista não citou o PT. Ou porque esqueceu ou porque não o julga mais tão relevante assim. 

De olho nas eleições municipais deste ano, e na eleição presidencial de 2018, o PT não quer saber de reformas que possam salvar o país, mas pôr em risco seu projeto de permanecer no poder por mais algum tempo.

Para Delfim, o futuro será pior do que o presente caso nada se faça de substancial para arrumar a economia. Para Maria da Conceição Tavares, Delfim não faz previsão, faz bruxaria porque ninguém pode dizer de fato o que a paralisaria do governo nos reserva. Bobagem. Ela sabe que a paralisia do governo só nos reserva coisas más.

A saída, segundo Maria da Conceição, estaria na formação de uma frente democrática ampla. “Só frente de esquerda não dá. Uniria líderes empresariais, sindicais, da sociedade civil, intelectuais, políticos que tenham credibilidade” para firmar um grande acordo que evite o desastre mais do que anunciado.

Quem poderia liderar a formação da frente ampla sugerida por Maria da Conceição? Fora Dilma, em função do cargo que ocupa, mais ninguém. Voltamos, portanto, ao que Delfim tem repetido como um mantra: é preciso que Dilma reassuma a presidência da República. Sem que ela exerça o protagonismo que o cargo lhe confere, nada de relevante poderá acontecer.

O nó reside justamente nisso. Dilma parece perdida. O receituário que aplicou à condução da economia no seu primeiro mandato foi responsável pela situação que o país atravessa. Ela fez quase tudo errado. E não está convencida de que deve daqui para frente fazer tudo ao contrário do que fez. 

Além de não estar convencida, teme ser abandonada por Lula e o PT.

Dilma revelou-se uma péssima gestora. Para escapar do impeachment, desqualificou sua equipe de governo que já não prestava. Sepultou de vez a “faxineira ética” que no seu primeiro ano de governo demitira meia dúzia de ministros por corrupção. E rendeu-se ao fisiologismo que dizia deplorar, única maneira que vislumbrou para se manter onde está.

Que nada de auspicioso se espere dela. Ou cairá antes do fim do seu atual mandato ou se arrastará trôpega até lá. Dane-se o país.

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