Bela Megale, Thais Arbex e Marina Dias – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, BRASÍLIA - Com a cobrança do PT e de movimentos sociais para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresente sua defesa sobre o sítio que frequenta em Atibaia e o tríplex atribuído a sua família em Guarujá, integrantes do Instituto Lula defenderam nesta sexta-feira (12) mudanças no rumo da entidade.
Eles pediram que o instituto foque suas ações no Brasil, e não mais na África e na América Latina, numa tentativa de recuperar o legado do petista. A defesa é de um projeto que "olhe mais para dentro", restabelecendo diálogo com a sociedade brasileira.
"Tanto a diretoria do instituto quanto os coordenadores avaliam a necessidade de voltar os trabalhos para dentro do país e intensificar o diálogo com entidades da sociedade", disse o presidente da entidade, Paulo Okamotto.
No momento em que o PT ainda vê o ex-presidente como uma das principais alternativas do partido para 2018, a proposta é que Lula viaje menos ao exterior para reconquistar sua imagem de liderança da esquerda do país.
Ao instituto, caberá exaltar bandeiras sociais do governo Lula, rebatendo, nas palavras de um de seus diretores, "o avanço de ideias conservadoras". "Vamos fazer mais atividades aqui, discutir a questão do racismo, da intolerância religiosa nesse momento de avanço de ideias conversadoras e da extrema direita no Brasil", enfatizou o diretor do instituto Celso Marcondes.
O entorno de Lula tem sustentado que não cabe à entidade tratar das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público sobre ele.
Tanto que, apesar da pressão para que Lula desse o tom de sua defesa nareunião com conselheiros nesta sexta, os diretores orientaram o petista a não falar sobre o tema, mesmo se questionado.
Em sua fala, a socióloga Maria Victoria Benevides insistiu que as suspeitas de que teria recebido benefícios de empreiteiras estão afetando a honra do ex-presidente. Lula, segundo os participantes, respondeu: "Não discuto questões pessoais em reuniões do instituto e do partido". Ao chegar à reunião, a socióloga já havia dito que as investigações envolvendo o ex-presidente fazem parte de uma "justiça seletiva e personalista, que age por interesses "político-eleitorais".
Na segunda (14), o ex-presidente participará de uma nova reunião, desta vez com a direção do PT, para discutir as denúncias que atingem sua imagem e da legenda.
A presidente Dilma Rousseff desembarcou nesta sexta (12) em São Paulo paraencontro com o antecessor. Foi a primeira vez que eles se reuniram depois da série de denúncias envolvendo o ex-presidente.
No encontro, segundo a Folha apurou, Lula não pediu um gesto público de Dilma em sua defesa. E a presidente decidiu que não vai tomar nenhuma "atitude prática" ou fazer "declarações enfáticas" neste sentido.
Quando questionada, deve manter discurso crítico ao que chama de "vazamento seletivo" de informação das operações Lava Jato e Zelotes, nas quais Lula é citado. Reservadamente, a presidente tem dito que o que vem a público tem o objetivo de "prejudicar" o PT e o seu governo.
Interlocutores do ex-presidente afirmam que Lula está "estudando o momento certo" para se pronunciar.
Os advogados que compõem sua assessoria jurídica mantêm a linha de que as investigações "não são justas" e tentam "criminalizar" o petista.
Além das suspeitas, Dilma e Lula discutiram as medidas que o governo vai tomar para a retomada do crescimento, tecla em que o ex-presidente tem batido desde o fim do ano passado, e a condução de propostas do Palácio do Planalto que sofrem resistência dentro do PT, como a reforma da Previdência.
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