Folha de S. Paulo
Os lances decisivos para o desenvolvimento das nações são em geral silenciosos e incrementais. A trepidação do impeachment de Dilma Rousseff importa menos para o futuro que o estímulo antiautoritário projetado pelo evento sobre a gestão do dinheiro público.
Nesse horizonte, as chamadas pedaladas fiscais -apelido inadequado para fraudes deliberadas, profundas e duradouras contra o pacto democrático cristalizado no Orçamento- sobrepujam, como razão para o impeachment, quaisquer outros motivos de ordem política, econômica ou moralista, os quais decerto pesaram mais no desfecho imediato.
Explodiu o custo sobre qualquer presidente disposto a fazer o diabo a fim de se reeleger. Quebrar estatais para fazer o sucessor, usar moeda clandestina de banco público para triunfar nas urnas, onerar gerações de pagadores de impostos com gestos imediatistas de cesarismo orçamentário, tudo isso ficou mais difícil.
A História poderá associar ao impeachment de Dilma Rousseff um dos episódios importantes na fixação de regras do jogo inclusivas e estáveis na sociedade brasileira. Há muita coisa a consertar, entretanto, para que essa via se consolide.
Agora mesmo o colapso das finanças estaduais e municipais desafia o edifício da responsabilidade devida pelos governantes aos cidadãos contribuintes. A Justiça, que tem atuado com firmeza no controle do abuso de poder, contribui para instilar confusão no domínio econômico.
A maioria formada no Congresso em torno de Michel Temer vai evaporar-se, inviabilizando a Presidência do peemedebista, caso se desvie da missão antipopulista à sua frente.
A hora é de refrear o instinto politiqueiro e entregar o núcleo estratégico do governo (Fazenda, BC, Justiça, Saúde, Educação e Relações Exteriores) a pessoas que, a despeito da filiação partidária, possuam luz própria e compromisso com recolocar o Brasil no trilho da sobriedade.
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