• Com peso da votação na Câmara, maioria pró- impeachment deve ser expressiva. PT tentará esticar prazos
- O Globo
Com o peso da votação da admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara, líderes dos partidos no Senado já projetam um rito sumário, respeitado o cronograma imposto pelo Supremo Tribunal Federal ( STF), para votação do parecer pelo seu afastamento por 180 dias e a posse do vice- presidente Michel Temer. A tendência, segundo os líderes, é aprovar no Senado por uma maioria tão expressiva quanto na Câmara. Hoje, cerca de 50 senadores já estariam propensos a ratificar a decisão da Câmara. Levantamento feito pelo GLOBO já identificou 41 votos favoráveis, também suficiente para aprovação.
O grupo de Michel Temer já começa a definir sua estratégia para agilizar os prazos no Senado. O novo presidente nacional do PMDB, senador Romero Jucá ( RR), disse que o ritmo na Casa será definido “pelas circunstâncias". Ele defende que os prazos sejam agilizados, e que não se espere até dia 10 de maio para a votação. A ideia é que haja um acordo para uma data intermediária, por volta do dia 4 ou 5 de maio.
— O rito no Senado será decidido pelas circunstâncias, pelo relator e pela reação da população — sinalizou Jucá.
O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira ( CE), reunirá a bancada apenas depois da leitura da decisão da Câmara pelo plenário do Senado, ou seja, na terça- feira. Eunício está resistindo à ideia do grupo de Temer de dar a relatoria para um partido aliado, para que não fique carimbado que é o partido do vice- presidente. Jucá defende essa alternativa. A senadora Simone Tebet ( PMDB- MS) estaria pleiteando o cargo. O nome da senadora Ana Amélia ( PP- RS) também está cotado para a relatoria da comissão processante.
Eunício disse a aliados que ainda não sabe se o PMDB terá a presidência ou a relatoria da comissão especial:
— Vamos tratar desse assunto com a sobriedade que ele requer, chegando ao Senado.
Lula e Dilma de olho nas eleições de 2018
O PT e o ex- presidente Lula, por outro lado, vão usar todas as armas para espichar ao máximo o calendário do impeachment no Senado para reforçar o discurso do golpe e tentar salvar o que restou do partido para a disputa de 2018. Do outro lado, a oposição e o PMDB vão brigar para virar a página em no máximo 30 dos 180 dias previstos para o julgamento final comandado pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e abrir caminho para o presidente Michel Temer inicie seu governo.
Os próprios líderes petistas já dão como perdida a batalha no Senado e o foco é salvar o partido e Lula. Com Dilma no Alvorada, petistas dizem que ela e Lula vão comandar uma mobilização nacional e internacional para denunciar o golpe, levando para o palácio lideranças de movimentos sociais e personalidades políticas internacionais para minar o governo de Temer.
— Dilma não vai ficar isolada no Alvorada esperando a sentença. Vai usar esses seis meses para denunciar o golpe ao mundo inteiro e mostrar que Michel estará acenando para o mercado e tirando direito de trabalhadores. Lula vai estar nas ruas e a mobilização vai crescer muito — diz o senador Lindbergh Faria (PT- RJ).
Os senadores do PT e do PCdoB passaram o dia acompanhando a votação, juntos, no Senado. À tarde, foram à Câmara para atuar junto aos colegas deputados. Os petistas admitem que não poderão barrar o pedido de afastamento da presidente Dilma. Hoje, contam com 28 dos 81 votos no Senado.
Mas acreditam que um desgaste do governo Temer poderá mudar o quadro na votação final do processo, ou seja, no julgamento de Dilma pelo Senado. Eles sabem que o PMDB de Temer quer correr com os prazos, mas disseram que, se isso, ocorrer, irão à Justiça. Mesmo antes da decisão, os petistas prometem transformar a vida do vice- presidente Michel Temer “num inferno" e prometem lutar pelo cumprimento de todos os prazos no Senado.
Com a perspectiva de afastamento da presidente Dilma e a perda do poder, o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima ( PB), diz que o PT e o PCdoB vão voltar a ser os partidos de oposição da década de 1970. Diz que com a reaproximação de movimentos e setores de esquerda, o PT enterrou a Carta aos Brasileiros que ajudou a eleger Lula em 2002:
— O foco a partir dessa segunda- feira aqui no Senado é 2018. O que ouvimos dos senadores do PT é que vão bater bumbo no plenário falando de golpe, mas não estão pensando em salvar Dilma. Estão preocupados é em construir a narrativa para 2018, quando acham que Lula estará em condições de disputar de novo o Planalto.
Em contraponto com o PT e PCdoB, líderes da oposição vão fazer carga para que, dentro do rito estabelecido pelo STF, seja encerrado o mais rapidamente possível para não contaminar o início da gestão Temer. Com Dilma no Alvorada, e Lula e o MST “incendiando” as ruas, avaliam que o início da reconstrução da economia ficaria prejudicado.
— O que percebemos hoje é que a própria base da presidente da República já não vê nela as mínimas condições de retirar o Brasil do abismo no qual ela e seu governo nos mergulhou. É hora de muita serenidade. Temos um Brasil a ser reconstruído — defende o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves.
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