• Prisão de quatro policiais legislativos também provocou troca de farpas entre ministro e presidente do Senado
A Polícia Federal prendeu quatro policiais legislativos do Senado, suspeitos de atrapalhar investigações da Lava Jato e de outras operações. Os agentes são acusados de fazer varreduras contra eventuais escutas colocadas pela PF em imóveis de políticos. Em reação, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que “a Polícia Legislativa exerce atividades dentro do que preceitua a Constituição, as normas legais e o regulamento do Senado”. No fim do dia, ele e o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, trocaram farpas e três agentes foram liberados. Investigações mostraram que a Polícia Legislativa inspecionou casas de Fernando Collor (PTC-AL) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), dias após mandados de busca e apreensão. Também houve “pente-fino” em endereços do ex-senador José Sarney (PMDB-AP), de Edison Lobão Filho (PMDB-MA) e até de terceiros.
PF detém policiais do Senado e cresce tensão no Congresso
Operação Métis. Quatro agentes legislativos são presos sob a suspeita de tentar ‘embaraçar’ a investigação da Lava Jato contra Collor, Gleisi e o ex-presidente Sarney
O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A Polícia Federal prendeu ontem quatro policiais legislativos do Senado, suspeitos de atuar para atrapalhar investigações da Lava Jato e de outras operações contra senadores e ex-senadores. Os agentes são acusados de fazer varreduras para identificar eventuais escutas ambientais e telefônicas instaladas pela PF nos imóveis dos políticos.
A ação provocou reação imediata do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que defendeu a legalidade das atividades (mais informações na pág. A6). No fim do dia, Renan e o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, trocaram farpas por causa da operação.
A operação ocorreu no momento em que o Senado se prepara para retomar o debate sobre o projeto que altera a lei de abuso de autoridade – a proposta que pune agentes públicos é alvo de questionamentos por investigadores e entidades do Ministério Público e Judiciário.
As investigações mostraram que a Polícia Legislativa fez inspeção nas casas dos senadores Fernando Collor (PTC-AL) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), em dias após os imóveis serem alvo de mandados de busca e apreensão da PF na Lava Jato. O motivo seria a “insegurança” dos congressistas com a possível presença de dispositivos de captação de áudio e imagens.
Também houve “pente-fino” em endereços do ex-senador José Sarney (PMDB-AP), que já não tem mais vínculo com o Senado, e até de terceiros. Os policiais legislativos fizeram rastreamento em endereço de Brasília descrito no inquérito como “escritório de lobby” de Sarney. Ele próprio pediu a ação.
Estiveram ainda em salas e na casa do então senador Edison Lobão Filho (PMDB-MA), entre julho e agosto de 2014, em Brasília e em São Luís. Naquele período, ele concorria ao governo do Maranhão e era investigado pela PF. Em setembro, o avião em que o congressista fazia campanha chegou a ser alvo de mandado de busca e apreensão. Conforme as investigações, em São Luís, os policiais legislativos fizeram varredura até na casa do genro do então candidato, Marcos Regada. Lobão Filho é filho do senador Edison Lobão (PMDB-MA), também investigado na Lava Jato.
“A deliberada utilização de um equipamento sofisticado, de propriedade do Senado, utilizando recursos públicos, passagens aéreas custeadas pelo erário e servidores concursados, em escritórios ou residências particulares, não possui outro objetivo senão o de embaraçar a investigação de infração penal que envolve organização criminosa”, afirmou o procurador Frederico Paiva.
Varreduras. A investigação foi aberta depois que três agentes do Senado desconfiaram que ações rotineiras de contrainteligência, normalmente usadas para detectar escutas clandestinas e equipamentos de vídeo em gabinetes, estavam sendo ordenadas para dificultar a apuração de casos de corrupção. Segundo eles, em meados de 2014 o diretor da Polícia Legislativa, Pedro Ricardo Araújo de Carvalho, passou a solicitar varreduras não apenas nas dependências do Senado, mas em imóveis oficiais e particulares e escritórios políticos de senadores.
Além de Pedro Ricardo, apontado como chefe da organização criminosa, foram presos temporariamente Everton Taborda, Antonio Tavares e Geraldo Cesar de Deus Oliveira. Por decisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira, eles podem ser soltos antes. Ontem, até a conclusão desta edição, Oliveira, Taborda e Tavares já haviam sido liberados após prestar depoimentos. O juiz confirmou que os pedidos partiam de autoridades do Senado.
/ FÁBIO FABRINI, FABIO SERAPIÃO, ERICH DECAT, JULIA LINDNER, JULIA AFFONSO, MATEUS COUTINHO e FAUSTO MACEDO
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