“No pós-impeachment, o enfrentamento – ou não – das resistências do corporativismo”, avaliei em 31 de agosto. Incerteza, dúvida, que reduzi em 5 de outubro, na avaliação dos resultados do 1º turno do pleito municipal: “Reformas. Menos obstrução e maior cobrança” (como reflexo das derrotas acachapantes do lulopetismo e da emergência do PSDB como principal vitorioso). Conclusão desdobrada pela indicação dos efeitos que deverão favorecer “uma afirmação no governo Temer de aliança entre a banda reformista do PMDB (da “Ponte para o Futuro”) com os partidos da antiga oposição, em detrimento do preparo de projeto eleitoral do maior partido governista, apoiado pelas legendas reunidas no chamado Centrão, corporativista”.
E as pesquisas sobre o fechamento do pleito no próximo dia 30 apontam para a consolidação e o reforço da virada partidária (e mais que isso de agenda político-econômica) ocorrida no 1º turno. Derrotas do petismo na única das capitais, o Recife, em que se manteve na disputa; bem como na do último município importante da Grande/SP, Santo André, que poderia preservar, e nas poucas cidades de maior porte, com quadro eleitoral semelhante, do Rio Grande do Sul aos estados do Norte e do Nordeste. Sem que a alternativa ultraesquerdista do candidato do PSOL no Rio de Janeiro, Marcelo Freixo, possa beneficiar-se disso, pois chega ao 2º turno sem nenhuma chance de vitória (enquanto o correligionário Edmilson Rodrigues ganhou competitividade final em Belém numa aliança nada ideológica com o oligarca paraense Jader Barbalho).
Quanto ao PMDB, conseguiu reafirmar-se como partido de maior capilaridade nacional, dominante em cidades de menor porte (respaldo básico de grandes bancadas no Legislativo federal) mas excluído do único grande centro urbano que tem controlado, o Rio de Janeiro, e derrotado nas tentativas de protagonismo em Porto Alegre, em Belo Horizonte e em São Paulo – onde uma vitória de Marta Suplicy, com um vice do PSD de Gilberto Kassab e articulada com a dos peemedebistas do Rio –, seria peça-chave do acima referido projeto presidencial.
Desempenhos eleitorais – contrapostos aos tratados no segundo parágrafo e bem diferentes dos resumidos no terceiro – aos correspondentes ao avanço do PSDB em São Paulo e no conjunto do país. Nos dois planos configurando-se como o grande contraponto aos desastres econômico, político, social e ético do ciclo de governos petistas. Aqui, com a espetacular e rápida eleição de João Dória na capital, e de candidatos do partido e aliados na Região Metropolitana e na maioria das cidades médias e grandes do Interior, geradora de forte afirmação da liderança do governador Geraldo Alckmin. No plano nacional, com vitórias, já definidas e praticamente certas, que vão propiciar ao partido a administração do maior número de capitais e de grandes cidades. Com destaque, além de São Paulo, para as conquistas de Belo Horizonte e Porto Alegre.
Ingredientes dos cenários político-institucionais com implicações imediatas e com as de maior fôlego, que condicionarão as apostas voltadas para 2018. O de curto prazo favorecendo a viabilização efetiva pelo Palácio do Planalto dos dois itens, básicos e iniciais, da pauta econômica reformista: o controle dos gastos públicos e o ataque ao crescimento explosivo do déficit da Previdência. E facilitando passos concretos de uma reforma do sistema político-partidário. A partir da adoção da cláusula de barreira, ou desempenho eleitoral, e do fim das coligações proporcionais, fechando o espaço do aventureirismo, das negociatas e da ingovernabilidade.
Mas boas e eficientes respostas a estas implicações, e mais ainda às voltadas para 2018, vão depender, decisivamente, de uma atuação convergente, sobretudo no Congresso, em favor das reformas dos partidos e lideranças que se uniram em torno do impeachment. Em especial dos tucanos, com a responsabilidade que lhes foi conferida no pleito municipal. Será nessa perspectiva – enfatizada por duas lideranças importantes, FHC e Aécio Neves –, ao invés de por meio da precipitação da disputa de candidatura presidencial, que eles precisam agir unitariamente em eventos importantes à frente: a renovação das mesas diretoras da Câmara e do Senado e a montagem de novo comando nacional na convenção partidária. Pois o fracasso das reformas – que enfrentarão fortes resistências esquerdistas e do corporativismo – poderá levar o país de volta ao populismo inflacionário e à economia estrangulada.
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Jarbas de Holanda é jornalista
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