- O Estado de S. Paulo
Haverá, como sempre, quem discorde do tamanho da poda dos juros básicos, de 0,25 ponto porcentual, a primeira desde outubro de 2012, decidida nesta quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
Dirão alguns que o Banco Central deveria ter sido mais contundente, não só – argumentam – porque a perda de força da inflação parece autorizar mais contundências, mas, também, porque o mercado financeiro e os formadores de preços reagem tão mais eficazmente à política de juros quanto mais clareza apreenderem dos sinais passados pela autoridade monetária.
A questão da dosagem é de menor importância; a da natureza dos sinais, mais relevante. O que mais importa aqui é que o Banco Central passe firmeza sobre seus movimentos e essa firmeza transpareceu não apenas do texto divulgado logo após a reunião do Copom, mas da postura coerente da atual administração, que já tem cinco meses.
O recado subjacente é o de que, mantidas as atuais condições, o Banco Central pretende manejar suas válvulas de maneira a deixar que mais moeda flua para o setor produtivo, mas sem as leviandades que caracterizaram a atuação do Banco Central durante boa parte do período Dilma.
Não está garantida a retomada imediata do crescimento econômico e do emprego nem o recuo sustentado da inflação, porque há mais fatores no jogo. A recuperação das contas públicas, principal causa da inflação, por exemplo, está longe de estar assegurada e continuam as dúvidas sobre a continuidade da desaceleração da remarcação dos preços.
O Banco Central não atua apenas nas alavancas que controlam o dinheiro. Faz parte essencial da política monetária a condução das expectativas, que consiste em levar os agentes econômicos a acreditar em que a meta pretendida será alcançada e, então, punirá com encalhe de mercadoria quem exagerar na remarcação dos seus preços.
Nesse particular, a questão de fundo que trabalha contra a criação da confiança é a de que, na prática, muitos empresários não acreditam na eficácia do regime de metas e operam como se ele não tivesse relevância. Quando pregam a derrubada radical e imediata dos juros, muitos dirigentes de entidades que reúnem empresários e mesmo analistas econômicos que se autorrotulam desenvolvimentistas se comportam como se a função da política monetária não fosse controlar a inflação; fosse prover fartura de dinheiro e de crédito para garantir o consumo e o reconfortante tilintar das máquinas registradoras, pouco se importando com o que acontece com os preços e com a arrumação geral dos fundamentos da economia.
Isso não quer dizer que o sistema de metas em vigor no País desde 1999 seja a bala de prata de uma política anti-inflacionária sadia. Quer dizer apenas que, se é para questioná-lo a partir da lentidão ou da supostamente baixa relevância de seus efeitos, então é preciso apontar outro regime que o substitua com vantagem. Até agora, não se inventou nada melhor. Enquanto estiver em vigor, é preciso que seja levado às suas últimas consequências.
Devagar se vai ao longe
O comunicado divulgado logo após a reunião do Copom mostra que o Banco Central não terá pressa em derrubar os juros básicos (Selic). Continuará com um olho no comportamento da inflação e o outro na expectativa formada pelo mercado. A meta para 2017 continua sendo inflação de 4,5%. O mercado ainda não se convenceu de que o objetivo será atingido.
A chave: ajuste fiscal
A incerteza maior sobre o comportamento futuro da inflação seguem sendo o ritmo e a disposição política de promover o ajuste fiscal, embora o Banco Central reconheça que “os primeiros passos foram positivos”.
Comida e combustíveis
Quando apontou como critério para definição do ritmo de redução futura dos juros “a desinflação de componentes mais sensíveis do IPCA”, o Copom focou os preços dos alimentos. Não houve nenhuma menção sobre o impacto (positivo) da redução dos preços dos combustíveis sobre a inflação.
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