• Prisão de Cunha esvazia plenário da Câmara e deixa deputados apreensivos; adversários do peemedebista defendem delação
Daiene Cardoso Isadora Peron Igor Gadelha – O Estado de S. Paulo
/ BRASÍLIA - A notícia da prisão do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) esvaziou ontem o plenário da Câmara e silenciou antigos aliados do peemedebista. Os deputados ficaram apreensivos, principalmente com a possibilidade de o ex-presidente da Casa fazer acordo de delação premiada.
O discurso era que, em tempos de Lava Jato, o próximo poderia ser qualquer um. Votações importantes previstas para o dia, como as emendas do projeto que desobriga a Petrobrás de ser operadora em todos os blocos de exploração do pré-sal, não foram realizadas por falta de quórum. Reuniões das comissões agendadas, como a que vai tratar da reforma política, foram canceladas.
“Claro que é um fato que assusta e deixa todos preocupados”, disse o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), antigo aliado de Cunha. “Quem teme é que tem que se preocupar.”
Adversário político de Cunha, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) anunciou a prisão na tribuna. “Que ele tenha todos os direitos de detido respeitados, mas que a justiça se faça para o bem do País”, disse. O comunicado não causou reação imediata nos deputados. O gelo foi quebrado quando parlamentares da oposição passaram a defender uma delação de Cunha.
“Hoje é o começo do fim deste governo golpista, que tirou uma mulher digna do poder, uma mulher que não roubou um real”, disse o deputado Silvio Costa (PTdoB-PE), defensor da presidente cassada Dilma Rousseff, ao prever problemas para o presidente Michel Temer.
Aliado de Cunha, Alberto Fraga (DEM-DF) disse que a prisão mostrava que o discurso do PT, de que o governo iria atuar para barrar a Lava Jato, não era verdade. “A Polícia Federal continua investigando, o Ministério Público continua investigando, e quem tem seus crimes a pagar vai ter que pagar”, afirmou.
O líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), reforçou o discurso. “O pessoal do PT dizia que, para prender Lula, teriam que antes prender Eduardo Cunha. Se for seguir a tese do PT, o caminho está aberto, e as portas de Curitiba estão abertas também para o Lula.” Entre os governistas, o clima era de preocupação com a possibilidade de a prisão afetar as votações do Executivo.“ Que cria um estresse, cria”, disse o líder do DEM.
Delação. Membros do Conselho de Ética pregaram que o peemedebista faça delação. “Se ele tem algo a revelar, acho bom que o faça. É preciso tirar de debaixo do tapete muita coisa que estava escondida”,disseo deputado Marcos Rogério (DEM-RO), que foi relator do processo de cassação de Cunha.
Inimigo político de Cunha, o deputado Júlio Delgado (PSBMG) defendeu que o deputado cassado colabore com a Justiça não para reduzir sua pena, mas para contribuir com o País. “A delação é uma colaboração que ele dá para a sociedade.”
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