• Resultado do segundo turno pelo país consolida vitória de Alckmin e perda de poder de Aécio
Júnia Gama - O Globo
-BRASÍLIA- Apesar de faltar ainda dois anos para as eleições presidenciais, o resultado deste pleito municipal estabelece a posição de largada dos principais personagens e partidos que sonham com 2018. E, nessa disputa, poucos foram os que se fortaleceram. O PSDB saiu como grande vencedor, com o comando de sete capitais, e outros 21 prefeitos eleitos em municípios com mais de 200 mil habitantes. Mas, internamente, o presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), sai alvejado com a derrota em Belo Horizonte, seu colégio eleitoral. E passa a dividir a liderança tucana com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que elegeu o “outsider” João Doria no primeiro turno e conseguiu colocar aliados em várias cidades importantes do estado mais populoso do país.
O PT, por sua vez, viveu uma queda vertiginosa: deixou de ter o comando de 17 cidades acima de 200 mil habitantes para ficar com apenas uma, Rio Branco. Mais que isto, o partido perdeu apoio até mesmo em seu berço político, o Grande ABC, e não conseguiu eleger um prefeito sequer em todo o outrora chamado “cinturão vermelho” da região metropolitana de São Paulo. Com suas maiores lideranças — os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff — fatalmente atingidas, e sem conseguir eleger os candidatos que seriam promessas futuras do partido, como Fernando Haddad na capital paulista, o PT começou antes mesmo do fechamento das urnas a discutir sua reconstrução até a próxima eleição presidencial.
A desintegração do PT é justamente o principal ponto do discurso que Aécio Neves passou a sustentar desde que seu candidato em Belo Horizonte, João Leite (PSDB), perdeu a liderança nas pesquisas para Alexandre Kalil (PHS), para refutar a tese de que sai deste pleito enfraquecido como presidenciável. Com o crescimento mais visível nestas eleições, tendo alcançado o controle de 803 municípios pelo país, atrás apenas do PMDB, a grande questão para o PSDB é sobre a possibilidade de chegar unido à próxima eleição presidencial.
Hoje, o cenário para Aécio não é animador. Depois de ter perdido para Dilma em Minas Gerais na votação presidencial em 2014, o tucano acabou derrotado em Belo Horizonte, mostrando grande fraqueza justamente em casa, o exato oposto de Alckmin, que conquistou 25% das prefeituras paulistas para o PSDB a começar pela capital.
Em sua primeira entrevista após a vitória, João Doria lançou Alckmin à Presidência, e Aécio respondeu aos correligionários afirmando que, caso não haja consenso no PSDB, o partido deve realizar prévias para escolher o candidato. Desde 2006, o partido flertou com o mecanismo várias vezes, mas nunca o colocou em prática e sempre convergiu para um nome consensual.
Ontem, antes mesmo de sair o resultado, o mineiro minimizou o impacto da derrota de seu candidato sobre seu futuro político em 2018. Aécio e seus aliados passaram a sustentar o discurso preventivo de que a vitória do PSDB em todo o país tem maior significado no sentido de fortalecer o senador, que preside o partido há três anos, do que a derrota na capital mineira teria de enfraquecê-lo.
Ao contrário do PT, que foi contaminado pela Lava-Jato, o PMDB conseguiu sobreviver sem grandes sobressaltos na primeira eleição após ter chegado à Presidência da República. Além de ter se mantido como a legenda com o maior número de prefeituras — passou de 1.010 para 1.024 —, aumentou de 11 para 13 o comando sobre cidades acima de 200 mil habitantes, atrás apenas do PSDB. Nas capitais, passou de duas para quatro: Boa Vista, Florianópolis, Cuiabá e Goiânia, sendo que apenas esta última está entre as dez maiores do país. No entanto, com a derrota no Rio, viu o número de eleitores sob seu comando cair.
A presença do presidente Michel Temer nesta eleição, por sua vez, foi quase nula. Sua impopularidade foi tão evidente que se viu candidatos a prefeito por todos os rincões do Brasil tentando esconder a aliança com o presidente da República. Foi assim em diversas capitais importantes, como Porto Alegre e São Paulo, onde candidatos do próprio PMDB se afastavam da imagem do presidente.
Outra presidenciável que perde terreno é Marina Silva. Apesar de seu partido, a Rede, ter conquistado em sua estreia eleitoral as duas maiores cidades do Amapá e do Espírito Santo — Macapá e Serra, respectivamente —, além de cinco municípios com menos de 200 mil habitantes, a presença de Marina na eleição foi imperceptível e seus nomes no Rio e em São Paulo, onde ela havia conquistado apoio expressivo em 2014, não alcançaram nem 2% dos votos.
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