segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Festa tucana PSDB vai governar 34 milhões em 803 cidades

• Partido vence em sete capitais, enquanto petistas perdem todas as disputas no segundo turno

Bernardo Mello e Gabriel Cariello - O Globo

A conclusão da disputa eleitoral nas grandes cidades brasileiras confirmou o roteiro que havia começado a se desenhar no primeiro turno das eleições municipais, no início do mês. Dos 57 municípios que tiveram segundo turno, ontem, o PSDB saiu vitorioso em 14 — o que garante aos tucanos uma influência recorde na história recente do país. O partido terá um eleitorado governado de 34 milhões de eleitores, um em cada quatro no país — maior índice na série histórica analisada pelo GLOBO, desde 2004. O recorde anterior pertencia ao PMDB, que somava 28 milhões de eleitores com suas vitórias no pleito de 2008. Para analistas políticos, o resultado fortalece a posição do PSDB para as eleições estaduais e presidenciais, em 2018.

Já o PMDB do presidente Michel Temer manteve, ontem, uma de suas principais características, segundo os analistas: a capilaridade. O partido conquistou nove prefeituras no segundo turno e vai administrar 1.038 municípios, número maior do que qualquer outra sigla. O PSDB vai administrar 803. Em terceiro, o PSD estará à frente de 540.

No entanto, a influência do PMDB sobre o eleitorado continua em queda. Depois do recorde em 2008, os peemedebistas governarão, agora, cidades cujos colégios eleitorais somam 20,9 milhões de votantes. O número corresponde a pouco mais da metade dos tucanos, seu principal aliado no governo federal.

Tucanos e peemedebistas ampliaram, ainda, suas prefeituras nas cidades com mais de 200 mil eleitores. O PSDB saltou de 15 para 28 municípios; o PMDB, de nove para 14.

— Enquanto o PMDB fica mais ou menos estável, e agora concentrado principalmente em pequenos e médios municípios, o PSDB cresce amparado pelo seu desempenho nas grandes cidades, onde foi muito vitorioso — aponta o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio. — No caso do PMDB, ter um grande número de prefeituras é importante para as eleições legislativas em 2018, que exigem muitas bases eleitorais. Já a conquista das grandes cidades, para o PSDB, faz a diferença para lançar candidatos aos governos estaduais e à Presidência. Qualitativamente, foi um resultado melhor para os tucanos do que para os peemedebistas.

PT SÓ ADMINISTRARÁ UMA CAPITAL
A maior queda foi do PT. O partido dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff perdeu 15 grandes cidades. Ontem, os petistas saíram derrotados em todas as suas sete disputas de segundo turno. Com isso, saem do pleito deste ano no comando de apenas um dos 92 municípios com mais de 200 mil eleitores: Rio Branco, a capital do Acre, onde o atual prefeito, Marcus Alexandre, havia sido reeleito no dia 2.
O PT, que chegou a ter 27 milhões de eleitores governados há quatro anos, agora vê sua influência direta reduzida a cerca 4 milhões.

— A derrota do PT foi muito grande em 2016. O partido perdeu muita densidade. As prefeituras para qual conseguiu eleger em todo o país são de menor dinâmica populacional e econômica. É possível afirmar que o PT foi reduzido ao tamanho pré-2002. Como ele vai reagir? Não sabemos — avalia o cientista político Paulo Baía, da UFRJ.

MAIOR FRAGMENTAÇÃO PARTIDÁRIA
Enquanto o PT perdeu força, partidos nanicos conseguiram acesso inédito ao “clube” das grandes cidades. O resultado do segundo turno confirmou que 21 siglas vão administrar estes 92 municípios. Em 2012, eram 16 partidos. Ao todo, 13 partidos conquistaram prefeituras nas 26 capitais brasileiras.

E os novatos conquistaram colégios eleitorais importantes. Com a vitória de Alexandre Kalil em Belo Horizonte, o PHS governará para mais de 2 milhões de eleitores. Kalil, ex-presidente do Atlético-MG, derrotou o candidato tucano João Leite, ex-goleiro do clube mineiro e apoiado pelo presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG). Já o PMN, de Rafael Greca, conseguiu uma vitória significativa em Curitiba, cidade de 1,2 milhão de eleitores. Greca derrotou Ney Leprevost (PSD) no segundo turno.

O avanço mais significativo neste contexto aconteceu com o PRB — a legenda venceu em Caxias do Sul, com Daniel Guerra, e no Rio, com Marcelo Crivella. É a primeira vez que o partido vai governar uma capital.

Os resultados fazem com que a sigla, cuja fundação está ligada a bispos licenciados da Igreja Universal, tenha o mesmo patamar do PMDB em eleitorado governado nas grandes cidades brasileiras: ambos terão influência sobre 5,1 milhões de eleitores.

— A diversidade de partidos que elegeram prefeitos nas grandes cidades reflete à fragmentação do sistema político brasileiro. Temos 35 partidos em disputa, o que gera uma fragmentação político-partidária enorme. Isso deve ser foco de uma reforma política, ainda em discussão — diz Baía.

Nas capitais, o PSDB foi o maior vitorioso entre os 13 partidos que elegeram prefeitos. Os tucanos venceram cinco das 18 que estavam em disputa no segundo turno. Ao todo, o partido governará sete capitais, entre elas, São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. Em 2012, os tucanos haviam sido eleitos para quatro.

— O PSDB sai da eleição com uma responsabilidade: a repercussão do que acontece nessas grandes cidades é muito grande, para o bem ou para o mal. Essas prefeituras conquistadas pelos tucanos servirão como uma espécie de fotografia do partido. Hoje, eles estão comemorando, mas na verdade há um risco. Se estiverem bem avaliados, é um ótimo sinal para as eleições de 2018. Mas se esses prefeitos fracassarem, o partido pode afundar — aponta Ismael.

O PT perdeu três capitais em relação à eleição anterior. Outros partidos de esquerda também reduziram sua influência. O PSB caiu de cinco para duas capitais; e o PSOL perdeu a única que governava, Macapá, depois que Clécio Luís foi para a Rede e se reelegeu.

A reeleição também deu o tom do resultado das urnas. Quinze prefeitos de capitais foram reconduzidos este ano. Além de Clécio, ontem, foram reeleitos Roberto Cláudio (PDT) em Fortaleza; Arthur Virgílio Neto (PSDB). em Manaus; Geraldo Júlio (PSB), em Recife; Zenaldo Coutinho (PSDB), em Belém; Rui Palmeira (PSDB), em Maceió; Luciano Rezende (PPS), em Vitória; e Edvaldo Holanda Júnior (PDT), em São Luís.

Apenas cinco prefeitos perderam as disputas, todas elas ainda no primeiro turno. O desempenho indica que as turbulências do cenário político nacional e a crise econômica não afetaram a imagem dos chefes do Executivo nas capitais, segundo os analistas.

— Acredito que a crise econômica tenha afetado mais as reeleições nos pequenos e médios municípios, que são mais dependentes de repasses estaduais e federais. Nas grandes cidades, que são mais ricas, a queda de arrecadação limita a possibilidade de fazer grandes investimentos. Por outro lado, como a eleição deste ano foi mais curta, ficou mais difícil para candidatos menos conhecidos. Quem já era prefeito e não estava mal avaliado tinha mais chance de ganhar — pondera Ismael.

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