Por Andrea Jubé – Valor Econômico
BRASÍLIA - Sem ministro da articulação política, caiu no colo do presidente Michel Temer a repercussão negativa da votação do pacote anticorrupção na Câmara, que acabou desvirtuado e resultou em medidas contra a autonomia da magistratura. Logo pela manhã, emissários de Temer telefonaram para os líderes do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), e do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), fazendo apelos para que ajudassem a reverter a votação no Senado.
Um auxiliar presidencial admitiu que o resultado da votação na Câmara era "preocupante" e que o governo tentaria revertê-lo, porque a matéria aprovada contraria o discurso do Palácio de valorização do papel dos magistrados. Nesta terça-feira, Temer se reuniu no Palácio com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, e representantes da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). Cármen Lúcia levou a Temer sua preocupação com a eventual aprovação da matéria na Câmara, o que se consumou na madrugada de ontem. Os líderes do governo no Senado e no Congresso combateram as manobras do presidente da Casa, Renan Calheiros, para apressar a votação do texto aprovado na Câmara.
Temer vai atuar como articulador político pelo menos até fevereiro. Quer adiar a escolha do sucessor de Geddel Vieira Lima na Secretaria de Governo para depois que passar a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. A disputa divide a base aliada, que tem PSDB e DEM de um lado e o antigo "Centrão" de outro. A tendência é de acirramento do embate interno entre os aliados.
Para adiar a escolha do sucessor de Geddel, Temer avaliou que não enfrentaria votações complexas no Congresso até fevereiro, sendo que tem o recesso de janeiro no meio do caminho. O desvirtuamento do pacote anticorrupção foi o ponto fora da curva no roteiro traçado por Temer.
O presidente avaliou que até a votação em segundo turno da PEC dos Gastos, o cenário de votações de interesse do governo estava tranquilo. Mesmo com o percalço das medidas de combate à corrupção, Temer não pretende nomear um ministro da articulação neste momento. Conforme um assessor presidencial costuma reiterar, "o presidente não entra em bola dividida".
O presidente reúne-se, na segunda feira, com as centrais sindicais para apresentar a reforma da Previdência, em conjunto com o chefe da Casa Civil. Padilha está de licença médica oficial e voltará na segunda-feira ao trabalho.
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