- O Estado de S. Paulo
• Pior do que a frieza apontada pelas estatísticas é a “sensação térmica”, que passa a impressão de uma retração ainda maior
Ainda não há indicação de que a atividade econômica parou de cair. No terceiro trimestre, o PIB caiu 0,8% em relação à situação do trimestre anterior e em quatro trimestres terminados em setembro, o tombo é de 4,4%. É a sétima retração trimestral consecutiva do PIB.
Pior do que a frieza apontada pelas estatísticas é a “sensação térmica”, que passa a impressão de uma retração ainda maior. No início do governo Temer, em maio deste ano, ainda havia a expectativa de que a virada apareceria ao cabo de uns meses de paciência. A paciência compareceu, mas a paradeira persistiu – e se aprofundou com o desemprego crescente, com o aumento do desalento e com a percepção generalizada de que o governo não tem coelho para tirar da cartola.
Este é o momento em que o consumo vem caindo mais do que o PIB, como observou nesta quarta-feira a economista Rebeca Palis, coordenadora das Contas Nacionais do IBGE, porque esbarra na queda do investimento, no aumento do desemprego, no alto endividamento das famílias e na necessidade de adiar as compras porque as incertezas se acentuam. Esses fatores, por sua vez, contêm a atividade produtiva porque as empresas têm de lidar com estoques demais, muita dívida e custos crescentes.
Há poucos meses ainda havia aposta e torcida de que o jogo estava para virar ainda no quarto trimestre. Não é o que acontece. Ao contrário, a percepção é a de que a atividade econômica segue em retração, embora em velocidade possivelmente mais baixa.
De todo modo, vai prevalecendo o arrasto negativo para 2017. A queda acumulada do PIB em 2016 deverá situar-se entre 3,4% e 3,6%. Para que essa marcha à ré se transforme em marcha à frente será preciso energia e mais torque do que antes se imaginava.
O governo já desistiu de contar para o ano que vem com o avanço do PIB de 1,6%. Não esconde que não espera mais do que 1,0%. Mas até mesmo essas projeções ajustadas para baixo começam a ser vistas como otimistas demais. Nesta quarta-feira, por exemplo, o Bradesco avisou que não prevê avanço do PIB em 2017 maior do que de 0,3%. Se forem confirmadas, essas projeções e as outras que se seguirão produzirão forte estrago na arrecadação. E essa é apenas uma das consequências negativas.
Quem sacode a cabeça diante das péssimas condições das contas públicas e se volta com olhar de mendigo para o Banco Central imagina que o poder de virada está concentrado agora na política monetária (política de juros).
Essa gente espera que, diante da pasmaceira, o Banco Central se adiante a derrubar os juros. Nesta quarta-feira, o Copom manteve o corte dos juros básicos (Selic) de 0,25 ponto porcentual, para 13,75% ao ano, mas deu a entender no comunicado que poderá ser mais incisivo a partir de janeiro.
Juros mais baixos ajudariam, sim, a gotejar lubrificante nas engrenagens emperradas do PIB, desde que não comprometam a meta de inflação. Mas convém não esperar demais. Os progressos na área fiscal não são suficientes para dar força à locomotiva. E ainda há um enorme déficit de confiança a reverter.
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