Por Sergio Lamucci – Valor Econômico
SÃO PAULO - A situação delicada de empresas e consumidores explica o mau desempenho da economia no terceiro trimestre, ajudando a entender a demora da retomada da atividade, avalia o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros. Para ele, o que pode acelerar um pouco a recuperação cíclica é uma queda mais forte dos juros, num cenário marcado pela queda da inflação e pela enorme ociosidade na economia. A continuidade da aprovação da agenda de reformas também é fundamental, segundo Mendonça de Barros.
"Se ele [o Banco Central] não agir direito, pode transformar a recessão profunda que nós temos numa depressão", diz. "Mas acho que ele não vai fazer isso, porque é gente competente que está lá."
Para Mendonça de Barros, a inflação está em baixa e pode encerrar o ano em 6,5%, o teto da banda de tolerância da meta, devido à monstruosa folga de recursos na economia - no mercado de trabalho, por exemplo, há 22 milhões de pessoas que estão desempregadas, trabalham em tempo parcial ou deixaram de buscar emprego por desalento. O consumo das famílias amarga uma queda de quase 10% e o investimento, de quase 30%, afirma ele.
O recuo da inflação só tenderia a entrar em risco se houvesse uma desvalorização do câmbio muito expressiva, o que não parece provável, acredita Mendonça de Barros. O cenário externo ficou mais incerto com a eleição de Donald Trump nos EUA, mas ele teria que ser um desastre com efeitos sobre o mundo todo para o real sofrer uma depreciação de grande magnitude.
Para o economista, o Comitê de Política Monetária (Copom) deveria ter acelerado o ritmo de corte da Selic na reunião de ontem, baixando os juros em 0,5 ponto percentual, e não em 0,25 ponto, como já havia feito no encontro de outubro. A taxa caiu para 13,75% ao ano.
"No comunicado do Copom, apenas o cenário externo pode explicar a manutenção de um corte de 0,25 ponto e não de 0,5 ponto. Essa posição me parece errada principalmente porque esta convicção ainda não está confirmada", afirma ele, para quem não há como saber qual será o impacto do governo Trump. Mendonça de Barros também vê uma queda considerável da inflação, com os resultados dos últimos quatro meses sendo bastante favoráveis.
Mendonça de Barros é um dos analistas que acreditavam num resultado um pouco melhor para a economia no terceiro trimestre, o que não se concretizou. O problema é que empresas e consumidores estão numa situação complicada, num quadro de contração do crédito, diz ele, também ex-presidente do BNDES. "O Ebitda [lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização] das empresas desapareceu por causa da recessão e os juros subiram", opina o economista. "Há uma pressão muito grande sobre as empresas para adotarem uma posição de preservação de caixa, para tentar sobreviver." Numa situação dessas, a última coisa em que se pensa é em expandir os negócios.
Muitos consumidores também estão endividados e enfrentam um momento complicado no mercado de trabalho. Mesmo quem continua a trabalhar se retrai na hora de consumir, por causa do temor de ser demitido. "Quem está empregado também age como desempregado", diz o economista.
Para Mendonça de Barros, esse cenário adia a recuperação cíclica, mas que inevitavelmente vai ocorrer. O ex-ministro considera que o Brasil passou por "um momento clássico de ruptura de uma bolha de consumo". Há poucos anos, a absorção interna crescia a um ritmo insustentável, na casa de 10%. Quando a bolha estoura, "há uma queda quase vertical" de vários indicadores econômicos, segundo ele. A demanda doméstica caiu 11,7% desde o terceiro trimestre de 2013, segundo o economista-chefe da Tullett Prebon, Fernando Montero. O ponto é que a retomada da atividade tem sido mais lenta do que se esperava. "Eu trabalhava com um ângulo de recuperação maior do que o que deve acontecer", diz Mendonça de Barros.
Para acelerar esse processo, o BC deveria cortar os juros com mais força, de acordo com ele. Isso ajudaria a aliviar a situação de empresas e consumidores, além de ter um impacto positivo sobre as expectativas. Segundo Mendonça de Barros, as empresas estão renegociando as suas dívidas com os bancos, mas o fazem a taxas ainda muito elevadas.
O ex-ministro vê espaço para a Selic terminar 2017 na casa de 9% a 9,5%, o que deverá equivaler a um juro real (descontada a inflação) de 4% a 4,5%. Hoje, a taxa real está em cerca de 8,5%, diz Mendonça de Barros.
Já a possibilidade de a economia crescer 2% em 2017 ficou para trás, acredita Mendonça de Barros, que há alguns meses via esse número como possível. Para ele, o mais provável hoje é algo na casa de 1%. "Se o BC ajudar", há como o Brasil avançar a um ritmo de 2% ao ano no terceiro trimestre do ano que vem, avalia ele, hoje presidente do conselho da Foton Brasil, que fabrica caminhões.
Mendonça de Barros acha viável um crescimento de 4% em 2018, mas isso dependerá de o BC cortar os juros com mais força e de a agenda de reformas seguir avançando. Nesse front, aliás, ele acredita que o governo de Michel Temer tem ido bem. O projeto que limita a expansão dos gastos da União foi aprovado em primeiro turno no Senado por uma votação expressiva, observa Mendonça de Barros, lembrando ainda que há um marco novo para o setor de petróleo. Agora, é o momento de enviar a reforma da Previdência. Essas medidas tendem a fortalecer a confiança, indicando a melhora das perspectivas para a economia.
Mendonça de Barros elogia o projeto do teto de gastos, que imporá limites à expansão das despesas da União. "Nunca houve algo desse tipo." Para ele, o ajuste gradual das contas públicas escolhido pelo governo é a melhor opção. Aumentar impostos seria tirar energia de uma economia que já está mambembe, diz Mendonça de Barros. "Seria um tiro no pé."
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