A recuperação da economia brasileira demorará mais para chegar. O Produto Interno Bruto caiu mais no terceiro do que no segundo trimestre do ano (-0,8% e -0,4%), provocando uma revisão para baixo das previsões de expansão em 2017 para mais perto de 0% e adiando o cronograma da volta do PIB ao campo positivo. Todas os diferentes cortes de medição do PIB (contra trimestre anterior, mesmo trimestre de 2015, em quatro trimestres e ano a ano) mostram redução das quedas. A lentidão da reação, porém, é exasperante.
Pelo lado do consumo, o fator que aprofundou a queda do PIB foram os investimentos, que aumentaram 0,5% no segundo trimestre e caíram 3,1% no seguinte. Pelo lado da oferta, a performance da indústria no período passou de positiva (1,2%) para negativa (-1,3), com o acréscimo decepcionante da agricultura, cuja retração se aprofundou de 0,8% para 1,4%. No ano, o PIB encolheu 4%, o pior resultado em duas décadas.
A baixa demanda por investimentos derrubou a produção de máquinas e equipamentos, sem que houvesse uma reanimação da indústria automotiva. A construção recuou 1,7% e a indústria de transformação, 2,1%. O consumo das famílias comportou-se melhor do que o previsto, mas o comércio lidera a queda no ano (-7,2%), seguido de perto por serviços que estão relacionados à indústria, como transportes e armazenagem.
A morosidade da reação da economia contradiz os índices de confiança, que apontavam expectativas favoráveis, impulsionados no início pelo impedimento de Dilma Rousseff e pelos planos de ajuste fiscal e de reformas do governo Temer. O profundo desarranjo das peças da economia, sensivelmente diferente de outras recessões brasileiras, frustrou as esperanças excessivamente otimistas.
Faltam fatores de impulso à recuperação - todos os componentes do PIB, em várias comparações temporais, mostram queda (ainda que menores) por seis trimestres consecutivos. O ímpeto positivo do setor externo, que impediu queda maior do PIB antes, arrefeceu com a valorização cambial.
A maior diferença em relação aos ciclos recessivos anteriores é o endividamento maior de consumidores e empresas, o que motivou uma dieta de crédito muito dura pelo sistema financeiro privado e um ambiente de juros muito elevados. A inadimplência das pessoas físicas aumentou e foi contida, enquanto que o número de empresas que entrou em recuperação judicial disparou e pode dobrar em relação aos 688 registrados em 2015.
Os balanços das empresas no terceiro trimestre mostraram recomposição dos lucros via cortes de custos, enquanto que as receitas declinaram nominalmente - levaram um tombo maior que uma inflação já alta. Nestas circunstâncias, a recuperação tende a ser bastante moderada, contida pelo processo de desalavancagem de consumidores e companhias.
Não se sai dessa enrascada sem um aumento do consumo das famílias, que compõe 64% do PIB pela ótica da demanda. Tudo indica, porém, que ele continuará contido enquanto o desemprego estiver em alta. Os salários não caíram tanto quanto uma recessão forte e prolongada poderia sugerir, mas parte da explicação está na demissão da força de trabalho menos qualificada, que ganha menos - a fatia que havia ingressado com força no mercado de consumo e garantido anos a fio de crescimento do comércio e dos serviços.
Quem viu nocaute do consumo das famílias atribuiu aos investimentos o papel de motor da recuperação. As concessões, que precisam de uma faxina cuidadosa na regulação, ficaram na maior parte para 2017. Enquanto o consumo não der sinais de vida, a indústria, às voltas com grande capacidade ociosa, não terá motivos para investir em novas plantas.
Outra diferença importante em relação a ciclos recessivos passados é que a cadeia produtiva de setores intensivos em capital, como petróleo, gás e construção civil, foram quase paralisados por investigações policiais. A construção civil levou um tombo, junto com as maiores empreiteiras suspeitas, e o setor de óleo e gás, cujo centro é a Petrobras, levou o golpe de fortes cortes de encomendas e drástico encolhimento do plano de investimentos da estatal. Com isso, a taxa de investimento continua caindo - atingiu 16,5% do PIB no terceiro trimestre, seu menor peso desde 2003, quando se iniciaram as administrações petistas.
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