Por Cristiane Agostine | Valor Econômico
SÃO PAULO - A ex-primeira-dama Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está sem fluxo cerebral e sua família autorizou ontem a doação de órgãos. Até o fechamento desta edição, na noite de ontem, Marisa Letícia respirava com auxílio de aparelhos e continuava na UTI. Com 66 anos, a ex-primeira-dama está internada desde o dia 24, depois de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico.
Ontem, Marisa Letícia foi submetida a um doppler transcraniano que identificou a ausência de fluxo cerebral, segundo boletim do hospital Sírio-Libanês. Depois do resultado do exame, a família de Lula autorizou o início dos procedimentos para a doação de órgãos. A previsão é que as córneas sejam doadas.
Apesar da ausência de fluxo cerebral, o coração de Marisa Letícia continuava pulsando até a noite de ontem, quando esta reportagem foi escrita. A equipe médica deve esperar o prazo de 18 horas depois do corte dos sedativos mais 6 horas para uma reavaliação do fluxo cerebral para determinar a morte cerebral de Marisa Letícia. Esse prazo deve terminar hoje, no fim da manhã.
O velório está previsto para acontecer no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, berço político de Lula, e a cremação deve ser no Jardim das Colinas, na região metropolitana de São Paulo.
Marisa Letícia foi internada há dez dias, depois de sentir-se mal em casa e ter um pico de pressão arterial de 23 x 12. A ex-primeira dama foi atendida no hospital Assunção, em São Bernardo do Campo, onde a família de Lula mora, e depois foi transferida para o Sírio-Libanês.
A mulher de Lula chegou ao hospital consciente, mas seu quadro clínico piorou muito nesta semana e tornou-se gravíssimo. Na segunda-feira, foi diagnosticada com trombose venosa profunda. No dia seguinte, os médicos tentaram tirar os sedativos, mas a pressão intracraniana aumentou e ela foi sedada novamente, voltando ao coma induzido. Na quarta-feira, os médicos disseram que o fluxo sanguíneo no cérebro era mínimo e o quadro, irreversível.
Lula recebeu ontem dezenas de visitas e manifestações de solidariedade e carinho, enquanto estava no hospital ao lado de sua família. O ex-presidente e Marisa Letícia começaram a namorar em 1973 e se casaram no ano seguinte. O casal tem quatro filhos.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso passou parte da tarde com Lula no hospital, acompanhado do ex-ministro José Gregori (PSDB). Os dois ex-presidentes se abraçaram e Lula ficou bastante emocionado. FHC retribuiu o gesto de carinho do petista que, em 2008, enquanto estava na Presidência, foi ao velório de Ruth Cardoso, mulher do tucano.
Políticos de vários partidos manifestaram pesar, entre eles o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que telefonou para o petista. No fim da noite de ontem, estava prevista a visita do presidente Michel Temer, com ministros e parlamentares do PMDB.
Lula recebeu também dezenas de petistas e simpatizantes. Entre eles estavam o teólogo Leonardo Boff, os ex-ministros Guido Mantega, Celso Amorim, Alexandre Padilha, Aloizio Mercadante e Paulo Vanucchi; o ex-prefeito Fernando Haddad, os senadores Lindbergh Farias (RJ), Humberto Costa (PE), Gleisi Hoffmann (PR), Jorge Viana (AC), Paulo Rocha (PA), José Pimentel (CE); os vereadores Eduardo Suplicy e Antonio Donato; o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o presidente do PT-SP, Emídio de Souza.
Na página do Facebook do ex-presidente, a família Lula da Silva agradeceu pela solidariedade e carinho recebidos desde que Marisa Letícia foi internada.
Jorge Viana deu um tom político aos problemas enfrentados pela mulher de Lula e disse que a última luta dela foi contra a "injustiça", em referência às investigações da Operação Lava-Jato. O senador afirmou que não se pode "destruir" uma pessoa que está sob investigação antes de determinar se ela é culpada ou inocente. "Viemos chorar junto com ele. Nessa hora o que podemos fazer? Abraçar, estar junto e também pedir que o Brasil pare de viver esse clima de absoluta intolerância. Que as confusões, as questões políticas e até do ponto de vista legais sejam conduzidas sem que se destrua primeiro as pessoas para depois ver se tem algum culpado ou não", disse.
O parlamentar elogiou o gesto de FHC e disse que é preciso superar as divergências políticas. "Ou nós nos vemos mais como seres humanos, brasileiros, ou então não sei o que será desse país. Lamento que a última luta de Marisa tenha sido contra injustiça. Isso é muito ruim, tomara que o nosso país se encontre consigo mesmo e com seu povo", disse Viana, em referência ao fato de Marisa Letícia ser ré em duas ações da Lava-Jato.
Um grupo de 20 pessoas passou a tarde em frente ao hospital para prestar solidariedade. O sindicalista João de Oliveira disse que, assim como ele, militantes do PT foram levar carinho ao ex-presidente. Com uma bandeira da CUT nas mãos, Oliveira disse que os militantes do PT devem se unir para dar força para o ex-presidente disputar a Presidência em 2018. "Ele é o nosso candidato e tem que estar bem para ser eleito em 2018".
Nesta semana, na primeira manifestação pública sobre a saúde de sua mulher, Lula afirmou a simpatizantes que "a pressão e a tensão fazem as pessoas chegarem ao ponto que a Marisa chegou". "Mas isso não vai fazer eu ficar chorando pelos cantos. Vai ficar apenas batendo na minha cabeça, como mais uma razão para que a luta continue", disse na segunda-feira, a representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens, segundo reportagem do UOL.
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