Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - A vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara mostra que o governo tem maioria confortável para negociar as reformas trabalhista e previdenciária. Os votos que Maia teve para vencer em primeiro turno (293) são apenas 15 a menos que o necessário para aprovar emendas constitucionais, que exigem 308 votos.
A situação pode ser considerada ainda mais confortável para o governo quando se verifica que Jovair Arantes (PTB-GO), o candidato dissidente da base aliada, recebeu 105 votos. No total, chega a 398 o número de deputados federais com os quais o presidente Michel Temer pode contar para aprovar reformas e concluir seu governo com a tranquilidade, desde que a Lava-Jato e a economia permitam.
Temer foi o grande vitorioso da eleições na Câmara. Ele é um especialista nisso. Sem a caneta nas mãos, já ganhou quatro. Tendo agora a caneta, ganhou com Maia sem nunca declarar que ele era seu candidato
Vitória indica maioria para reformas
A vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) mostra que o governo conta com uma maioria confortável para negociar as reformas trabalhista e previdenciária. Maia venceu no primeiro turno, com 293 votos, apenas 15 a menos que o número necessário para aprovar emendas constitucionais, o que exige o quórum qualificado de 308 votos.
A situação pode ser considerada ainda mais confortável para o governo quando se verifica que Jovair Arantes (PTB-GO), o candidato dissidente da base aliada, foi escolhido por 105 colegas. No somatório, chega a 398 o total de deputados federais com os quais o presidente Michel Temer pode contar no Congresso para concluir seu governo com a tranquilidade que permitir a Lava-Jato e a recuperação econômica.
Chega a ser redundância dizer que Temer foi o grande vitorioso da eleição. O presidente é um especialista em eleições na Câmara dos Deputados. Sem a caneta nas mãos, ganhou quatro difíceis - três para a presidência da Casa, sendo que em uma delas por apenas um voto de diferença, e o impeachment de Dilma. Agora, com a caneta na mão, seu apoio desde cedo desenhou a vitória de Rodrigo Maia. A única dúvida existente era de ordem jurídica, desfeita ontem à noite pelo STF.
Com a caneta nas mãos, Temer ganhou com Maia sem nunca declarar que ele era seu candidato.
A eleição de Rodrigo Maia acaba de vez com o comando duplo da base aliada na Câmara, que chegou ao paroxismo no período Dilma Rousseff-Eduardo Cunha. A Câmara agora tem comando político unificado. O Centrão deixa de existir no formato configurado pelo ex-deputado Eduardo Cunha, que perpassava as instâncias partidárias. Permanece, sem organicidade, talvez mais parecido com ideologia do Centrão original, que funcionou na Assembleia Nacional Constituinte - um grupo conservador nos costumes e de matiz mais liberal na economia. Permanece, sobretudo, o que foram todos os "centrões" - essencialmente fisiológicos e governistas.
A votação de Maia reforça uma contradição da gestão Temer, um governo cuja popularidade é débil, mas é muito forte no Congresso. A eleição de Maia, a aprovação do teto para os gastos públicos, a mudança na lei do petróleo - a biografia do presidente Temer no Legislativo já supera tudo o que os governos fizeram desde o segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
Isso não quer dizer necessariamente que a aprovação das reformas será um passeio para a coordenação política do governo, agora sob a regência do consulado do PSDB. Já não se vai mais discutir temas abstratos para a população, como um teto para o gasto público, mas sim medidas que afetam o bolso das pessoas, como aposentadorias e contratos de trabalho.
A mistura de baixa avaliação com a votação de medidas impopulares pode resultar numa combinação explosiva. E não é só: o governo tem pressa e fala em aprovar as reformas ainda no primeiro semestre, porque sabe que depois de julho o ambiente político começa a gravitar em torno das eleições para presidente, governador, senador e deputados de 2018. Quanto mais próxima for a eleição, menor será a disposição de deputados e senadores para tirar direitos ou privilégios (depende do ponto de vista) previdenciários ou trabalhistas do eleitorado.
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