Por André Guilherme Vieira |Valor Econômico
CURITIBA - O ex-ministro Antonio Palocci afirmou a advogados que contratou para tentar acordo de delação premiada, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria o "real destinatário" de metade de toda a propina supostamente reservada ao PT na Sete Brasil, empresa criada com recursos de fundos públicos e de bancos para que a Petrobras explorasse petróleo na camada pré-sal.
Palocci havia dito ao advogado Alessandro Silvério, na semana passada, ter recebido, supostamente com Lula, ao menos um terço da propina da Sete. Agora o ex-ministro começa a aprofundar sua versão aos criminalistas Adriano Bretas e Tracy Reinaldet dos Santos, contratados para buscar acordo com o Ministério Público Federal (MPF). Procurados, ambos disseram que não podem comentar o assunto. Lula vai depor ao juiz Sergio Moro em 10 de maio, em ação relacionada à suposta ocultação de um tríplex. O interrogatório estava previsto para o dia 3, mas foi adiado por questão de segurança.
A narrativa de Palocci vai ao encontro de parte dos fatos relatados pelo ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, em anexos de informações entregues ao Ministério Público Federal (MPF), conforme apurou o Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor. Duque tenta fechar seu acordo há quase um ano, mas pouco do que ele contou ainda não era de conhecimento da força-tarefa da Lava-Jato. Ele também busca meios de comprovar supostas entregas de dinheiro em espécie ao Instituto Lula, em São Paulo, que relatou em sua proposta de acordo.
Palocci narrou à sua nova equipe de defensores uma reunião que teria ocorrido depois da montagem do projeto da Sete Brasil, quando o rateio de propinas já estava estabelecido, conforme afirmou. Do encontro teriam participado executivos da Sete e da Petrobras, atualmente processados por corrupção e lavagem de dinheiro.
De acordo com a versão do ex-ministro, na reunião ele foi questionado sobre o motivo de a divisão de propinas na Sete não seguir o mesmo padrão do esquema Petrobras, de "meio a meio".
"É porque dessa vez o Lula está junto no negócio", teria respondido Palocci, segundo versão preliminar relatada aos advogados. O ex-presidente Lula tem negado veementemente envolvimento em práticas ilícitas. Ele diz que jamais recebeu propina "antes, durante ou depois" de ter ocupado a presidência da República. Seus advogados sustentam que Lula é vítima do que classificam como uma "perseguição" engendrada por setores do Ministério Público e do Judiciário.
Palocci ainda manterá uma série de reuniões com seus defensores antes que suas informações sejam compiladas em anexos de informações divididos por temas. Somente após essa etapa os fatos narrados pelo candidato a colaborador - juntamente com detalhes, datas, lugares, indícios de corroboração e indicação de meios de prova - serão entregues ao MPF, que os avaliará.
O ex-ministro da Fazenda (janeiro de 2003 a março de 2006) e da Casa Civil (janeiro a junho de 2011) ainda terá de detalhar como a suposta propina solicitada por Lula foi acertada, além do modo e do local em que Vaccari a teria disponibilizado.
Relatos de supostos pagamentos indevidos a Lula e a Palocci também constam das delações de executivos do grupo Odebrecht, homologadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Contato da Odebrecht na Sete Brasil, Rogério Araújo disse ter tomado conhecimento de que o "sapo barbudo", alcunha dada a Lula pelo antigo governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola (1922-2004), teria passado instruções sobre o acerto de propinas para o PT.
Segundo Araújo, a divisão de propinas na Sete teria sido de um terço para funcionários da empresa e da Petrobras, e dois terços para o PT, "conforme decidido pelo partido e pelo ex-presidente da República Lula", registra o texto da petição 6734, recebida pelo relator da Lava-Jato no STF, ministro Edson Fachin, e que abrirá uma nova frente de investigação sobre o petista, réu em cinco ações penais e já investigado em cerca de 10 procedimentos.
"Os pagamentos ao PT se dariam pelas empresas brasileiras, particularmente a companhia [Odebrecht]. Segundo Pedro Barusco, essa era uma decisão do PT, por orientação do 'barbudo' [apelido dado a Lula por Barusco] e os pagamentos aos funcionários da Petrobras/Sete Brasil se dariam pelas empresas estrangeiras", diz o texto de um dos anexos de informações entregues pela Odebrecht à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Também delator, Márcio Faria, que era superior hierárquico de Araújo na Odebrecht, conformou ter sabido do pedido de propina após a assinatura de contrato para construção de seis sondas para a Sete Brasil.
O executivo, no entanto, não mencionou Lula em seu depoimento. Mas relatou como ficou sabendo que Antonio Palocci teria solicitado propina de 1%. "Fui chamado pelo Marcelo Odebrecht, que era o diretor-presidente, dizendo que havia sido procurado pelo ex-ministro Antonio Palocci, onde ele cobrou essa propina, [sobre] 100% de 1% para o PT", disse Faria.
Marcelo Odebrecht confirmou, em delação, que Palocci fez o pedido, mas explicou aos investigadores que o considerou indevido. Segundo Odebrecht, esse tipo de acerto já estaria embutido na 'conta corrente' que o grupo tinha ajustado com o PT. A conta 'italiano' - codinome de Palocci no departamento de propinas da Odebrecht - chegou a ter saldo de R$ 200 milhões, segundo o delator. Palocci também seria uma espécie de 'gerente' da subconta "Amigo", que contaria com R$ 40 milhões destinados a Lula, de acordo com Odebrecht.
Atual advogado de Palocci, José Roberto Batochio informou que não foi comunicado sobre a decisão do ex-ministro e que "não aceita causas com delação premiada".
Procurada, a defesa de Vaccari não foi localizada. Seu advogado, Luiz Borges D'Urso, tem afirmado que o ex-tesoureiro é inocente.
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