Depois de seis anos de desaceleração econômica, os dois últimos anos de recessão, a América Latina e o Caribe dão sinais de retomada, e precisam investir em infraestrutura para consolidar a saída da estagnação. A constatação é de estudo do Banco Mundial, divulgado na reunião conjunta com o FMI, em Washington. No ano passado, a economia da região recuou 1%, afetada em boa parte pelo desempenho ruim de quatro países que representam 54% do seu PIB: a Venezuela, que encolheu 12%; o Brasil, 3,6%; a Argentina, 2,3%; e o Equador, 2,1%. A mais recente previsão do Banco Mundial é que a América Latina e o Caribe devem crescer 1,5% neste ano, com recuperação modesta de 0,7% do Brasil e de 3% da Argentina. Apenas a Venezuela deve continuar em recessão, com o PIB caindo mais 3,1%.
O próprio Banco Mundial reconheceu que a América Latina e Caribe saem combalidos desse longo período de estagnação, que começou após a crise internacional e foi acentuado pelo fim do boom das commodities. Dos 32 países da região, 29 registraram déficit fiscal, em média de 5,2% do PIB. Em consequência, o estoque da dívida cresceu, atingindo em média 50% do PIB.
O estudo do economista-chefe para a América Latina e Caribe do Banco Mundial, Carlos A. Végh, explica que vários países gastaram mais em políticas anticíclicas para superar a estagnação, contrariando a tendência predominante da região de uma atuação pró-cíclica, caracterizada pelo expansionismo nos momentos bons e pelo contracionismo nos períodos ruins. Na última década, enquanto Chile, Colômbia, Guatemala, México, Paraguai e Peru tornaram-se contracíclicos, Argentina, Bolívia, Brasil, Nicarágua, Panamá e Uruguai continuaram a implementar uma política fiscal pró-cíclica. Para Végh, se a economia continuar letárgica, "a vida claramente será mais difícil para o segundo do que para o primeiro" grupo. O primeiro ainda terá espaço fiscal para adotar algum instrumento de estímulo, luxo que o segundo não terá.
O quadro fiscal da América Latina e Caribe torna, portanto, difícil para os governos investirem diretamente em infraestrutura para estimular o crescimento. As carências são enormes nessa área. Levantamento feito pela Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) no ano passado informa que o investimento em infraestrutura atingiu 2,2% do PIB na região. Mas deveria ser mais do que o dobro e ficar entre 5,4% e 8,6% do PIB, para desenvolver de modo mais eficaz a integração regional, melhorar a produtividade e reduzir a desigualdade. Já o Banco Mundial estima em US$ 200 bilhões por ano a injeção de recursos necessária para a infraestrutura da região; e avalia que, apesar das peculiaridades de cada país, houve avanços em eletricidade e internet, mas deixa a desejar em água e transporte. Apenas 30% do esgoto é tratado.
Debate promovido pelo Banco Mundial durante a reunião conjunta com o FMI apontou o investimento em infraestrutura como o "novo motor" do crescimento da América Latina e Caribe. O vice-presidente do banco para América Latina e Caribe, Jorge Familiar, disse que os governos da região devem reduzir os riscos, fortalecer os marcos regulatórios e desenvolver o mercado de capitais para atrair o capital privado e fazer parcerias, de modo a liberar os recursos públicos para áreas prioritárias.
São conselhos mais fáceis de falar do que de implementar, como mostra a experiência do Brasil que, desde o final dos anos 1990, trabalha com esse objetivo. Em debate a respeito do assunto, que incluiu além do Brasil, a Argentina, o Chile, a Colômbia, a Guatemala e o México, constatou-se que os problemas são basicamente os mesmos.
O mercado de capitais carece de profundidade e alguns países ensaiam criar uma praça regional para facilitar o trânsito de recursos de investidores locais, como os cobiçados fundos de pensão chilenos. De toda forma, o investimento externo é considerado limitado, apesar do apetite dos chineses. A confiança e a credibilidade são os ativos mais difíceis de se conseguir. É complexo conciliar o ciclo dos projetos de infraestrutura, geralmente de longo prazo, com o ciclo político, normalmente de um mandato eletivo. Pouco se falou do efeito negativo da corrupção nos projetos de infraestrutura, um problema antigo, cuja extensão gigantesca só veio à tona recentemente.
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