Ex-presidente da empreiteira disse ser contrário à usina de R$ 30 bilhões
Em seu depoimento ao juiz Sergio Moro, Marcelo Odebrecht afirmou que era contra a hidrelétrica de Belo Monte (PA) e que teria até se desentendido com seu pai, Emílio Odebrecht, sobre o assunto. A polêmica sobre o leilão da usina, feito em 2010, e o desenho final do consórcio responsável pela construção, no entanto, indicam apetite da empreiteira pelo projeto, segundo fontes do setor. Apesar de ter desistido de participar do leilão às vésperas do certame, a Odebrecht integra o grupo de construtoras responsáveis pela obra.
Instalada no Rio Xingu, em plena Floresta Amazônica, Belo Monte é estudada desde a década de 1970. Mas o projeto só acabou saindo do papel nos anos 2000, quando pressões ambientais e uma legislação mais restritiva levaram a uma revisão no projeto original, com a eliminação dos reservatórios existentes em hidrelétricas tradicionais.
Com capacidade instalada de 11.233 MW, Belo Monte será a segunda maior do Brasil quando estiver pronta, em 2019 — com quatro anos de atraso —, atrás de Itaipu. Sua construção, embora polêmica, é apontada como necessária por especialistas do setor elétrico.
— Na época em que foi tomada a decisão de levá-la a leilão, o país crescia. Havia perspectiva de aumento da demanda por energia. E a fonte hidrelétrica é uma fonte renovável, importante para o Brasil — avalia Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ.
Na delação, Marcelo Odebrecht, disse ser contrário à obra:
— Eu tinha uma relação meio complicada com Lula porque muitas vezes eu discordava das coisas. Exemplo típico foi Belo Monte, Arena Corinthians, dois projetos que eu fui contra, e aí Lula acabava recorrendo ao meu pai como última instância.
Segundo fontes do setor, Odebrecht e Camargo Corrêa, que se uniriam em um consórcio para disputar a usina, pressionavam o governo para subir o preço teto da tarifa. O Planalto não cedeu. A menos de 15 dias da licitação, a dupla de empreiteiras desistiu do negócio, irritando o então presidente Lula, e deixando o consórcio liderado pela Andrade Gutierrez como o único candidato.
Lula e seus advogados têm negado o conteúdo das delações, inclusive sobre o estádio do Corinthians, afirmando que não há provas, apenas especulações.
O governo, então, formou um consórcio às pressas, o Norte Energia, liderado pela Chesf, subsidiária da Eletrobras. Ao lado da estatal estava a Queiroz Galvão, o grupo Bertin e várias pequenas empreiteiras, que acabariam sendo substituídas mais tarde. Queiroz Galvão e Bertin também deixaram a sociedade. Odebrecht e Camargo Corrêa voltariam à cena como integrantes do consórcio construtor, ao lado da Andrade Gutierrez, que perdera o leilão, e outras construtoras.
Belo Monte foi orçada em R$ 16 bilhões e leiloada a R$ 19 bilhões. Hoje, o investimento está perto de R$ 30 bilhões, com acusações de superfaturamento. O Tribunal de Contas da União identificou sobrepreço de R$ 3,2 bilhões. A Norte Energia, que venceu o leilão, não retornou as ligações nem o e-mail do GLOBO. A Andrade Gutierrez, maior acionista do consórcio construtor, evitou comentar os dados do TCU. Disse apenas que colabora com investigações do Ministério Público Federal “dentro do acordo de leniência” e que tem compromisso de “esclarecer e corrigir fatos irregulares do passado”.
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