- O Estado de S. Paulo
Recessão alimenta a fogueira do embate político em torno das reformas
São 14,2 milhões de desempregados em todo o País, segundo os números mais recentes do IBGE, referentes ao primeiro trimestre de 2017, e correspondem a 13,7% da população em idade de trabalhar. É como se a cidade de São Paulo, inteira, e mais o ABC estivessem sem ocupação.
Desemprego parrudo, que não dá margem a dúvidas, por mais disposição que se tenha de relativizar estatísticas e pinçar comparações mais favoráveis. Só esses grandes números já bastariam para mostrar como e porque a atividade econômica está demorando a pegar embalo. Ou seja: a economia continua andando devagar, em consequência o desemprego não cede e, como ele não cede, também não dá impulso para a economia apressar o passo.
A pauta antirreformas, aliada à crise econômica, conseguiu enfraquecer a divisão das centrais sindicais, bastante acentuada nos últimos anos. Depois da greve da sexta-feira, os atos do 1.º de maio em São Paulo, em que tradicionalmente CUT e Força Sindical tentavam destacar suas “diferenças”, desta vez terão como alvo comum as reformas trabalhista e previdenciária e a crise. É claro que há aqui um componente decisivo para essa “união”, ou seja, a extinção do imposto sindical embutida nas novas regras trabalhistas, mas não dá para ignorar ou minimizar o efeito catalisador da insatisfação com a situação econômica. A recessão, traduzida para o conjunto da população em desemprego, está jogando lenha na fogueira do embate político em torno das reformas.
Cresce a impaciência com a fragilidade do mercado de trabalho. O próprio IBGE encarregou-se de frustrar quem está tentando vislumbrar mudanças nesse quadro, ao cravar o diagnóstico de que “não há absolutamente nada que mostre recuperação” do emprego. De fato, o levantamento do IBGE reúne uma multiplicidade de indicadores apontando para o pior desempenho na série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. A população desocupada aumentou 27,8% sobre o primeiro trimestre de 2016, com o acréscimo de um contingente de 3,1 milhões de pessoas -- inclusive porque, quando começaram a pipocar alguns indícios de alívio na crise, muita gente acreditou que os bons tempos estavam de volta e saiu de casa para procurar uma vaga, provocando assim uma virada no chamado efeito desalento.
Na mesma base de comparação, a população ocupada caiu 1,9% (menos 1,7 milhão de pessoas). O nível de ocupação, que mede a participação das pessoas ocupadas na força de trabalho, passou de 54,7% para 53,1%. E o número de trabalhadores com carteira assinada baixou 3,5% (1,2 milhão). É bom esclarecer que esse último indicador pode ser tomado mesmo como prova da precarização do mercado de trabalho, já que o número de trabalhadores por conta própria também caiu no período (menos 4,6%, ou 1,1 milhão de pessoas) – eliminando, portanto, a hipótese de que a redução das vagas formais seja reflexo de uma adesão a novas tendências no mercado de trabalho, como a opção pelo empreendedorismo, marca da geração “millennial”.
Com o desemprego ainda firme e forte, fica claro que uma reação da atividade econômica via consumo, além de demorar, pode ser mais frágil do que se esperava. Afinal, quem está desempregado obviamente não tem condições de reforçar o consumo e até quem está empregado hesita, temendo ser o próximo a engrossar a fila dos desocupados – mesmo considerando-se que o endividamento do consumidor, outro responsável pelo encolhimento da demanda, esteja em baixa. Desemprego persistente, consumo refreado, atividade econômica cambaleante – enfim, um circuito que, salvo a construção de uma barreira ou de um atalho, vai bater lá na frente de novo em desemprego.
A economia do governo Temer, no momento, está mais voltada para o médio e longo prazos, com reformas constitucionais centradas em impedir o agravamento do desequilíbrio das contas públicas e em melhorar a produtividade e a competitividade das empresas. O efeito de curto prazo, em linhas gerais, viria mais pela confiança dos agentes econômicos, que resultaria em juros mais civilizados e estímulo aos investimentos – chegando por aí à criação de empregos. O discurso do presidente, no 1.º de maio, deverá insistir justamente nesse roteiro virtuoso. Num cenário de reformas aprovadas, mesmo com a da Previdência desidratada, será hora de testar como e em quanto tempo será cumprido esse roteiro.
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