sexta-feira, 16 de junho de 2017

'Cautela é conveniente, covardia, não', afirma FHC

Ex-presidente justifica ‘porta aberta’ para saída do governo em razão da sucessão de denúncias contra presidente Temer

ENTREVISTA: Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ex-presidente da República

Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo

A decisão do TSE sobre a chapa Dilma-Temer foi correta?

Não. Se eu concordasse, deveria ter-me oposto à causa proposta pelo PSDB. Entendo os argumentos que basearam a negação de procedência da causa por temor de suas consequências – três votos do tribunal anulando uma decisão soberana do eleitorado. Mas neste caso seria melhor nem abrir a possibilidade de haver o recurso.

O que achou da decisão do PSDB de manter apoio ao governo, mas deixar uma porta aberta para a saída?

Na atual conjuntura, era o que, no mínimo, teria de ser feito diante da sucessão de denúncias (contra o governo).

O senador Tasso Jereissati é o melhor nome para presidir o partido?

O Tasso é, sem dúvida, plenamente capacitado para dirigir o partido, mas há uma preliminar: o titular (Aécio Neves) está afastado, não renunciou.

Os interesses políticos de Aécio Neves e Geraldo Alckmin pesaram na decisão do PSDB de ficar no governo?

Não creio. A situação do País é demasiado crítica para que eventuais interesses pessoais tivessem prevalecido.

As implicações da Lava Jato devem nortear agora a posição do partido?

Elas tiveram e terão impacto.

Como avalia a proposta de antecipar a escolha da nova Executiva tucana para agosto ou setembro?

Não estou no Congresso nem na direção do PSDB para avaliar corretamente.

O governo Temer tem legitimidade para fazer as reformas que o PSDB se diz fiador?

Até agora o governo tem sido capaz de obter apoios no Congresso. Independentemente disso, o País precisa das reformas e o PSDB deve lutar para que nelas os desiguais não sejam tratados do mesmo jeito que os privilegiados. Pelo que vi no Senado, o PSDB assegurou mais a reforma trabalhista do que o PMDB que é quem afinal governa.

Um grupo de 17 deputados do PSDB do bloco autodenominado “cabeças pretas” abriu uma dissidência na bancada, liderada pelo deputado Daniel Coelho (PE). Militantes do partido, alguns históricos como Miguel Reale Júnior, estão deixando a legenda. O PSDB está passando por seu pior momento?

O Brasil, melhor, os brasileiros estão divididos, não só o PSDB. Mas a imensa maioria está unida contra a corrupção e a favor de passar a limpo as instituições. Os “cabeças pretas” temem que os “cabeças brancas”, e olha que meus cabelos são mais do que brancos, se acomodem ao poder. Não creio: cautela é conveniente, covardia, não. Haverá o toque de reunir.

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