sexta-feira, 16 de junho de 2017

FHC defende antecipação de eleições

Por Raymundo Costa | Valor Econômico

BRASÍLIA - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende que o presidente Michel Temer deve pedir a antecipação de eleições gerais, num "gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder", se avaliar que perdeu condições de governar. Na opinião de FHC, o juiz desta decisão deve ser Temer. Neste caso, o presidente deveria então chamar os partidos para conversar sobre a mudança no calendário eleitoral. "A responsabilidade maior é a do Presidente que decidirá se ainda tem forças para resistir ", disse FHC em nota divulgada ontem.

A opinião de Fernando Henrique era conhecida internamente pela cúpula do PSDB, mas ele orientou os tucanos a votar contrariamente à ruptura com o Planalto, em reunião da Executiva Nacional do partido realizada na última segunda-feira, 12. Nem o ex-presidente nem o PSDB explicaram o motivo da mudança. O ex-governador de São Paulo e vice-presidente do PSDB Alberto Goldman disse que a posição de FHC reflete "como estamos todos nós com dificuldades para encontrar um caminho". De acordo com Goldman, o dilema do PSDB nada tem a ver com as eleições de 2018 ou com a situação do senador Aécio Neves (PSDB-MG), ameaçado de prisão.

Tomada sob protestos dos cabeças pretas, como são chamados os deputados mais novos, a decisão de permanecer no governo sofreu outras contestações antes do fim da semana. O presidente interino do PSDB, por exemplo, disse que estar no governo significa estar dentro de um "sistema que temos que mudar". E anunciou também que o PSDB vai recorrer contra a decisão do TSE que absolveu a chapa Dilma-Temer.

"Preferiria atravessar a pinguela, mas se ela continuar quebrando será melhor atravessar o rio a nado e devolver a legitimação da ordem à soberania popular", disse Fernando Henrique Cardoso em nota enviada ontem ao "Globo" e à agência Lupa. O ex-presidente escreveu a nota a fim de explicar suas contradições sobre o assunto: "A conjuntura política do Brasil tem sofrido abalos fortes e a minha percepção também".

Na nota, FHC diz que se estivesse na posição de presidente e olhasse em volta " reconheceria que estamos vivendo uma quase anomia". Segundo o ex-presidente "falta o que os políticólogos chamam de 'legitimidade', ou seja, reconhecendo que a autoridade é legítima consentir em obedecer".

FHC explica que a ordem vigente é legal - por isso anteriormente falou em golpe quando se referiu à possibilidade de antecipação eleitoral. "Mas não havendo aceitação generalizada de sua validade, ou há um gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder pedindo antecipação de eleições gerais, ou o poder se erode de tal forma que as ruas pedirão a ruptura da regra vigente exigindo antecipação do voto".

"É diante desta perspectiva que os partidos, pensando no Brasil, nas suas chances econômicas e nos 14 milhões de desempregados, devem decidir o que fazer", afirma FHC na nota enviada ao "Globo". "A chance e a cautela a que me refiro derivam de minha percepção da gravidade da situação. Ou se pensa nos passos seguintes em termos nacionais e não partidários nem personalistas ou iremos às cegas para o desconhecido".

"Se tudo continuar como está com a desconstrução contínua da autoridade, pior ainda se houver tentativas de embaraçar as investigações em curso, não vejo mais como o PSDB possa continuar no governo".

Tucanos que conversaram ontem com FHC dizem que ele insiste que a decisão deve ser de Temer e que cabe a ele a iniciativa de procurar os partidos e propor a antecipação das eleições. Nas mesmas conversas, segundo apurou o Valor, os tucanos falam em antecipar a eleição para o primeiro semestre de 2018, para dar tempo à organização do pleito. Não há nem orçamento para a realização de eleições este ano.

"É uma análise sociológica", ironizou o secretário-geral da Presidência da República, Moreira Franco, ao ler a nota de Fernando Henrique. "Não vem revestida de nenhuma avaliação político-partidária". Segundo Moreira, "o que não se deve é perder o foco de que devemos aprovar a reforma da Previdência neste semestre".

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