Por Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - Em meio às ameaças de refluxo da Lava-Jato, a ex-senadora e presidenciável Marina Silva (Rede) fez uma defesa enfática da operação anticorrupção - a qual, em sua opinião, parece estar sendo sabotada - e do afastamento do presidente da República, Michel Temer.
Em entrevista ao programa do jornalista Roberto D'Avila, da "GloboNews", Marina afirmou que o "melhor gesto" que se pode fazer para sair da crise, em vez de um grande pacto entre as maiores lideranças partidárias, é a Câmara dos Deputados aceitar que a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer, por corrupção passiva, seja julgada pelo Supremo Tribunal Federal, tirando o presidente do poder.
Para a ex-senadora, os parlamentares precisam atender a vontade da maioria da população, já que, de acordo com levantamento de opinião, 94% dos brasileiros não querem a permanência do pemedebista no Planalto. "O Congresso tem que atender a sociedade. O melhor pacto que se pode fazer, o melhor sinal, é fazer o que a sociedade está querendo. A sociedade não quer o governo que está aí", disse.
Para que haja condições de mudanças e de reformas, argumentou Marina, é necessário "legitimidade, credibilidade e popularidade", o que faltaria a Temer. A ex-senadora criticou ações do presidente para garantir votos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara com o objetivo de barrar o prosseguimento da denúncia da PGR no Supremo.
Ex-ministra do Meio Ambiente, Marina repudiou a negociação que teria envolvido a troca de votos de deputados da CCJ por "dádivas", como a aprovação da chamada MP da grilagem, que permite a legalização de terras invadidas, e a desfiguração do programa de refinanciamento de dívidas com a União, que reduziu uma arrecadação prevista com o Refis de R$ 13 bilhões para R$ 500 milhões.
A ex-senadora criticou o retrocesso em conquistas sociais e econômicas do país nos últimos anos, devido à fulanização e partidarização do debate polarizado entre PT e PSDB, que não estaria permitindo a institucionalização desses avanços. O mesmo se daria em torno da consolidação da Lava-Jato, que em sua opinião parece estar sendo sabotada. Ao se posicionar contra o teto de gastos da União, aprovado pela base de Temer, Marina disse que "engessaram o orçamento por 20 anos e não olham para as necessidades estratégicas do país". "Como é que a Polícia Federal sofre os cortes que está sofrendo, e o Ministério da Justiça, quando uma das coisas mais importantes que está acontecendo é o trabalho da Lava-Jato? Às vezes, chega-se a pensar que o que está acontecendo é uma sabotagem", disse.
Em diversos momentos, Marina buscou fazer a defesa da operação. "Temos que persistir no trabalho da Lava-Jato. O que estão tentando no Congresso é algo muito perigoso como disse o próprio [juiz] Sergio Moro", afirmou, numa referência à reação legislativa para cercear a operação. Marina qualificou a Lava-Jato como uma das "maiores contribuições que vem sendo dada ao Brasil depois da redemocratização", pois mostra que "ninguém está acima da lei".
A ex-senadora afirmou ser uma contradição o governo aumentar a alíquota de PIS/Cofins sobre o combustíveis e fazer "um festival" de distribuição de emendas parlamentares para aliciar votos de deputados da CCJ. "O contribuinte é que paga o preço", disse.
Quando questionada se será candidata a presidente em 2018, Marina afirmou que ainda está fazendo o seu "discernimento", mas destacou que o país não sairá da crise por meio da intervenção de um "salvador da pátria".
Nenhum comentário:
Postar um comentário