- O Estado de S.Paulo
40,3% dos eleitores preferem Doria; só 13,2%, Alckmin; 41,3%, nenhum dos dois
A única coisa que restou da propaganda dos tucanos na TV, além da decisão de esconder seus líderes e do aprofundamento do racha interno, foi um bordão de campanha: “O PSDB errou, o PSDB errou, o PSDB errou”. Um prato feito para adversários, porque o efeito pode ser tudo, menos favorável ao partido. Parece coisa de gênio: do PT, do PC do B, do PSOL ou do Bolsonaro.
Apesar disso, há de se reconhecer que o PSDB errou muito mesmo – e continua errando. Errou, principalmente, quando se acovardou e acabou jogando seus maiores trunfos pela janela nas eleições presidenciais de 2006 e 2010, encampando o selo da “herança maldita” que o então presidente Lula carimbou nos anos benditos de Fernando Henrique Cardoso.
Errou, aliás, sempre que seus principais líderes passaram a rasteira uns nos outros. Inclusive quando, dizem as más línguas, corroboradas pelos fatos, o próprio Fernando Henrique lavou as mãos diante da candidatura de José Serra em 2002 e, até por omissão, contribuiu para a vitória de Lula. “É a vez dele”, diziam FH e seus assessores nos bastidores.
E o PSDB continuou errando todas as vezes em que Geraldo Alckmin e Aécio Neves trabalharam contra as candidaturas de Serra em 2002 e 2010 e quando Serra e Aécio deram de ombros para a candidatura de Alckmin em 2006. O único que não tem do que reclamar é Aécio que, em 2014, perdeu surpreendentemente em Minas, mas ganhou em São Paulo. Muito pela força de Alckmin.
Além de martelar que “o PSDB errou”, o presidente interino, Tasso Jereissati, criou o momento político mais dramático para Michel Temer entre a gravação de Joesley Batista e a derrubada da denúncia pela Câmara: presidindo o principal partido aliado ao governo, ele foi manchete de todos os jornais pregando a queda de Temer e a posse de Rodrigo Maia. Não era uma decisão do PSDB. Logo, foi um voluntarismo típico de coronéis nordestinos.
É assim que o PSDB caminha rachado para a eleição de 2018, imprevisível e amedrontadora para todo mundo, com um presidente afastado e cheio de problemas, um presidente interino que fala e age de acordo com a própria cachola e, como sempre, com dois candidatos disputando a mesma vaga: Alckmin e João Doria.
Segundo o instituto Paraná Pesquisa, com base em 2.802 questionários online, entre os dias 15 e 17, Doria está disparado na frente. Pergunta: “Entre Geraldo Alckmin e João Doria, quem seria o melhor candidato à Presidência da República em 2018?”. Respostas: 40,3% disseram Doria; 13,2%, Alckmin; 41,3%, nenhum deles; e 5,2% não souberam dizer.
A proporção se repete nos cortes de gênero e de idade, mas se amplia entre os que têm ensino superior e, imagina-se, maior grau de informação. Nesse estrato, 48,6% optaram por Doria e 13% por Alckmin, lembrando-se que o governador e ex-candidato é mais conhecido, enquanto Doria adentrou à política nacional há meses.
No corte por regiões, Alckmin fica numa estreita faixa, entre 12,1% no Sudeste e 14,6% no Norte e Centro-Oeste. Já Doria sofre grande oscilação: vai de 28,5% no Nordeste a 47,9% no Sudeste. Uma curiosidade, ou aviso, é o alto índice dos que responderam “nenhum”: 36,1% no Sudeste, casa de ambos; 37,9% no Sul; 45,2% no Norte e Centro-Oeste; e 49,5% no Nordeste, que é PT.
A pesquisa é importante para o PSDB (se ainda há apenas um PSDB), mas também para os cálculos políticos dos seus aliados naturais em 2018: PMDB, DEM, a maior parte do Centrão (PP, PR, PTB ...), que estão farejando as chances de Alckmin e Doria e o movimento será na direção de quem estiver na frente. Alckmin é mais forte no PSDB, mas Doria está ganhando a disputa pelo eleitorado. E, seja um ou outro, vai sofrer com o verdadeiro, mas desastrado, “o PSDB errou”.
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