A propaganda levada ao ar em rede nacional pelo PSDB na quinta-feira passada, em que o partido diz que “errou” e que “é hora de pensar no País”, soou como a cerimônia fúnebre de uma agremiação política que hoje não tem liderança, proposta ou direção reconhecíveis. Produzida e divulgada por insistência do presidente tucano interino, o senador Tasso Jereissati (CE), a peça é um desastre completo não apenas para o partido, mas para o País, pois sustenta de forma vulgar a mensagem deletéria segundo a qual a política brasileira está integralmente danada. Essa demagogia barata não combina com um partido que sempre se julgou moderno e que pretendia inspirar em seus eleitores a esperança de que a política podia ser feita sem o apelo fácil às paixões populares. Se antes o PSDB “errou”, como diz, cometeu um erro muito pior agora.
Enquanto elenca as conquistas que o PSDB diz ter legado, como o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, o vídeo intercala a frase, dita em tom grave, “mas o PSDB errou”. Em seguida vem a explicação, na forma de uma confissão: os tucanos “cederam ao jogo da velha política” quando aceitaram “como natural o fisiologismo, que é a troca de favores individuais e vantagens pessoais em detrimento da verdadeira necessidade do cidadão brasileiro”.
O programa não dá um único nome, donde se presume que, para a direção do partido, a maioria dos tucanos se envolveu no mais rasteiro toma lá dá cá. Os parlamentares do PSDB foram colocados pelo próprio partido na categoria dos políticos interesseiros ou ladravazes. Nem o mais bem pago marqueteiro petista poderia ter imaginado algo que fosse tão favorável ao partido de Lula da Silva, este sim, o mentor intelectual do desastre político, econômico e moral que atingiu o Brasil. Afinal, a se acreditar no discurso disseminado pela propaganda tucana, todos os partidos e todos os políticos são iguais – uma afronta ao fato inegável de que foi o PT, associado ao que há de mais atrasado no País, que inaugurou uma era de profundo desrespeito pelas instituições democráticas, resultando na quase completa desmoralização da política. E não se ouvirá nenhum líder petista – muito menos Lula da Silva – dizer que “errou”.
Com sua iniciativa, a direção do PSDB parece interessada em alinhar o discurso do partido ao clamor gestado pela irresponsabilidade dos que, a pretexto de acabar com a roubalheira de dinheiro público, tentam mobilizar a opinião pública contra todos os políticos. O PSDB aceitou colocar a cabeça dos seus parlamentares na guilhotina do tribunal popular em que se converteu a chamada “luta contra a corrupção”, enquanto os corruptos de fato, muitos já condenados, saem pelo País a bradar que são perseguidos políticos.
Mais do que isso: a direção do PSDB entendeu que era o caso de incluir o governo do presidente Michel Temer – do qual participa com quatro ministros e cujas propostas de reformas formalmente apoia – no rol dos desastres nacionais, dizendo que “o Brasil está parado há quase três anos por conta de uma crise política que parece não ter fim”. E então a propaganda emenda com a proposta de instituir o parlamentarismo, dizendo que, nesse sistema, “um governo sem base de apoio no Congresso, sem condições de governar, é imediatamente destituído, sem processo de impeachment, sem batalhas jurídicas, sem sacrificar o povo e sem minar as energias do País”. Um desavisado poderia supor que, para o PSDB, o governo Temer já deveria ter sido destituído – e só não o foi porque o regime atual é presidencialista e Temer se segura na base do fisiologismo e das chicanas.
Muitos tucanos de destaque manifestaram profunda contrariedade com a iniciativa da direção do PSDB. O chanceler Aloysio Nunes Ferreira lembrou não só a participação do PSDB no governo, mas também o esforço de Michel Temer para levar adiante a agenda de reformas. E disse que essa agenda avançará “se o PSDB deixar de ser um fator de crise e de desorganização da base parlamentar”. Ou seja, se o PSDB voltar a pensar no País.
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