- Folha de S. Paulo
Apesar de a crise política não dar sinais de arrefecer, os mercados sorriem para o Brasil. A Bolsa anda perto dos 68 mil pontos (batera em 62 mil no "day after" da gravação de Joesley) e o dólar está comportado. Nem o aumento do rombo fiscal alterou o quadro.
Há dois motivos principais para isso. Em primeiro lugar, a situação externa é extremamente favorável. Há enorme liquidez e baixa aversão ao risco lá fora. Em segundo, o mercado trabalha com o pressuposto de que a racionalidade prevalecerá no país. Mas será que vai mesmo?
Até maio, esse era um cenário bem plausível. A equipe econômica tinha uma proposta para impedir uma expansão insustentável da dívida pública. Era um plano em dois tempos. A primeira parte, a criação de um limite para os gastos públicos, foi inscrita na Carta. A segunda, as reformas, notadamente a da Previdência, que dariam ao governo meios concretos de conter o aumento das despesas, estavam encaminhadas.
Mas veio o "affaire" Joesley e a base parlamentar de Temer sofreu um tremendo revés. Hoje, parecem remotas as chance de aprovação até de uma reforma ultradiluída da Previdência. O problema é que o primeiro tempo sem o segundo não funciona. Dado que os gastos previdenciários, que são obrigatórios, têm crescimento vegetativo, a existência do teto sem uma mudança de regras que permita conter essas despesas logo fará com que a totalidade das verbas disponíveis seja consumida com salários e aposentadorias. Em outras palavras, vai faltar dinheiro para saúde, educação, segurança etc.
Num mundo perfeitamente racional, seria questão de tempo até os parlamentares aprovarem as reformas que ficaram faltando. Não estou tão seguro, porém, de que o epíteto "racional" se aplique à política. E, no dia em que os mercados se derem conta de que as coisas não necessariamente tomarão o rumo por eles desejado, o ajuste poderá ser violento.
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