Douglas Gavras Márcia De Chiara | O Estado de S. Paulo.
A melhora nos indicadores de vendas do varejo, produção industrial e expectativa de investimentos ajuda a vislumbrar uma luz no fim do túnel para a economia, mas o avanço ainda é lento e tímido, na visão dos economistas. O índice de volume de vendas do varejo divulgado ontem pelo IBGE está no mesmo patamar de dois anos atrás, enquanto a produção da indústria segue como em 2009.
O indicador de vendas, em volume, do comércio varejista ampliado ficou em 92,5 pontos em junho, o mesmo registrado em dezembro de 2015. Ainda é baixo, se comparado ao pico da série histórica, de 101 pontos em novembro de 2014, mas foi o melhor resultado deste ano.
Para o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, a evolução não é um “soluço”, mostra uma recuperação lenta, mas consolidada. “Pode não ser empolgante, mas o movimento é claro. O que ainda preocupa é a velocidade. Nesse ritmo, vamos ter de esperar anos para recuperar as perdas.”
Na avaliação do economista, a melhora dos índices vem de um conjunto de fatores, como o aumento do poder de compra do consumidor, com a queda da inflação, os resultados melhores de emprego e o corte dos juros básicos. “É um movimento que demora a se materializar na economia, mas o último trimestre deste ano tende a ser melhor que os demais. Ainda não conseguimos mensurar o alívio da liberação do FGTS no consumo, mas ele existiu.”
O fotógrafo Fábio Vieira, de 32 anos, usou os recursos das contas inativas de FGTS para consumir. “Acabei de me mudar e precisava mobiliar o apartamento. Aproveitei o dinheiro para comprar uma lente, cama, televisão e armário. Foi fácil encontrar descontos. Os vendedores corriam atrás de mim.”
“A queda da inflação significou uma pequena melhora do poder de compra das famílias. Perdemos 7% do PIB em 2015 e 2016 e estamos sem crescer desde 2014, são quatro anos. Nesse intervalo, deveríamos ter crescido a 2% ao ano”, analisa Heron do Carmo, professor da FEA/USP. Ele lembra que a inflação baixa abre a possibilidade de uma recuperação mais rápida agora e a redução de juros também. “A tendência é a melhora do endividamento de empresas e pessoas, o que pode levar a uma reativação da produção e do emprego.”
Indústria. Mais combalida do que o varejo, a indústria fechou o mês de junho com índice de produção em 86,5 pontos, na série com ajuste sazonal – mesmo patamar de fevereiro de 2009. Na ocasião, os industriais paulistas também registravam recordes de ociosidade e de estoque. Com a falta de demanda, a produção das fábricas já dava sinais de entrar em marcha lenta.
No segmento de eletrodomésticos, a percepção dos fabricantes é mais pessimista. “Voltamos dez anos”, diz João Carlos Brega, presidente da Whirlpool para a América Latina. “Entendemos que a economia tocou no piso no segundo trimestre, mas vai seguir andando de lado até o fim do ano que vem. Vai dar uma sensação de alívio, que é diferente de melhora. Tem uma lei da física que diz: do chão não passa. Precisamos criar condições para crescimento sustentável de longo prazo.”
A demora no reaquecimento da demanda também impactou nos investimentos da indústria. O índice de sondagem feito pelo Ibre/FGV aponta que a intenção de aportes do segundo trimestre deste ano estava no mesmo patamar do quarto trimestre de 2014. “A sensação do empresariado naquela época é a mesma de agora, de incerteza. Os dados gerais são bons, mas o nível de incerteza para quem tem de pensar no longo prazo ainda é imenso. Enquanto a luz no fim do túnel não for mais forte, o empresário não vai investir com segurança”, diz Aloisio Campelo Júnior, da FGV.
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