A um ano das eleições, a disputa presidencial é uma aposta no escuro. Nem mesmo o favorito até agora, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode assegurar que participará do pleito - o que muda tudo. O prestígio dos principais partidos que polarizaram as corridas ao Planalto desde o Plano Real, em 1996 - PT e PSDB - foi jogado na lama pelas denúncias de corrupção investigadas pela Lava-Jato. A situação do esteio de todos os governos, o PMDB, é igual, mas a legenda de mil faces já não é tida como lar da decência há décadas.
O espaço para candidaturas novas existe e não é pequeno. Mas a elas se opõem ativamente as elites políticas, que aprovaram um simulacro de reforma na semana passada. Ela fortalece os caciques partidários e lhes dá o poder absoluto de distribuir dinheiro entre os candidatos de suas legendas em uma eleição em que a escassez de recursos é grave, após o banimento do financiamento empresarial. Esse poder, ampliado com a redução do tempo de campanha, dá mais chances aos atuais incumbentes e as reduz para novatos, especialmente os contestadores.
Os movimentos da caneta do presidente Temer favoreceram as cúpulas partidárias e os candidatos mais ricos, já que os limites para o uso de dinheiro próprio caíram por terra após veto a um artigo que, em tese, tentava reduzi-lo. O Fundo de Financiamento de Campanha, como foi aprovado, beneficiará os maiores e mal afamados partidos, como PT, PSDB e PMDB com pelo menos 40% dos recursos.
Se Lula concorrer, um dos eixos de uma eleição polarizada está dado. Mesmo com toda a artilharia incessante de denúncias, sua rejeição está em queda e ele lidera nas intenções de voto no primeiro e egundo turnos, contra qualquer candidato, segundo a mais recente pesquisa Datafolha (19 a 24 de setembro). Não é difícil que Lula siga na dianteira por um bom tempo, até porque seu rival decisivo ainda não apareceu. O espaço para Lula crescer não é grande, dada sua rejeição, e sua candidatura é vulnerável, especialmente se a economia der sinais de firme melhora e permitir um contraponto à campanha negativa que tem promovido.
Dois pré-candidatos encarnam a oposição visceral a Lula: Jair Bolsonaro e João Doria. Pelo Datafolha, quem não votaria em Lula de forma alguma prefere Bolsonaro (33%) e, depois, Marina (19%), com Doria ainda distante. O principal obstáculo ao avanço de Bolsonaro são suas ideias e ao de Doria, sua ambição. A mudança de partido, em direção a um bloco governista como PMDB e DEM, destroçará o discurso de renovação de Doria, assim como sua imagem de gestor tem sendo danificada por sua ausência da cidade que deveria gerir.
Marina vai bem nas pesquisas e seus eleitores têm o perfil dos que usualmente votam em Lula: metade (51%) ganha até 2 salários mínimos e 82% até cinco mínimos. Os desígnios de Marina, porém, são insondáveis. O principal pessedebista, Geraldo Alckmin, tem um eleitor de perfil semelhante, apenas um pouco mais enraizado que Marina entre os mais ricos. Alckmin deve vencer Doria como pré-candidato e seu tom conservador, discurso modernizante e temperamento ponderado o tornam um dos possíveis favoritos se nenhum candidato novo e mais empolgante surgir no cenário até outubro de 2018 e se a disputa ocorrer entre máquinas partidárias e contendores tradicionais.
O descrédito de partidos e de políticos foi estampado em pesquisa da FGV-Dapp - 83,2% dos pesquisados não confia neles, fatia que pouco varia nas diversas regiões do país. Além disso, 55% disseram que não repetiriam o voto que deram para presidente, e em percentual ligeiramente menor, mas acima de 50%, para governador, senador ou deputado federal. Esse é um quadro até esperado. A intenção de anular o voto ou votar em branco chega a 29,3% no país.
Mas sufragar um candidato novo e fora da política tradicional é opção de 29,8% dos pesquisados, inferior à soma dos que votariam em seu partido de preferência ou em candidato de outra legenda qualquer, com 34,1%. A maior propensão pelo novo se observa no Sul (40,8%) e a menor, no Nordeste (23,8%). Ou seja, a chance do establishment abortar o potencial ímpeto renovador não é baixa e cresce na hora em que entrar em jogo os recursos e a TV. Apesar de se aguardar uma eleição muito diferente das outras, é possível, sim, que ela seja exatamente igual às de sempre, pela força conservadora e paralisante das máquinas partidárias.
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