Igor Gielow / Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Ao aceitar comandar o PSDB para tentar evitar uma cisão irreversível no partido, Geraldo Alckmin pavimentou o caminho para sua candidatura à Presidência da República em 2018. Seus problemas estão só começando.
O governador paulista terá de contornar uma série de obstáculos para dar competitividade à sua postulação, a começar pela própria casa.
O PSDB pode não ter implodido, mas está cheio de fissuras. A solução que o governador estuda é fazer uma divisão de poder entre os grupos divergentes na Executiva a ser eleita no dia 9.
Essa partilha tem viés pacificador e operacional, contemplando os candidatos a presidente da sigla que desistiram em favor de Alckmin.
O governador Marconi Perillo (GO) pode ficar com uma vice-presidência e será responsável pelas costuras de palanques estaduais de 2018.
A tarefa é central para nacionalizar a candidatura de Alckmin, em especial nas regiões em que o PSDB é anêmico: Nordeste e Norte.
O próprio paulista já fez movimentos para atrair o PSB em Pernambuco, e o foco é trazer o DEM de ACM Neto na Bahia -seja com candidatura estadual do prefeito de Salvador, seja atraindo-o para o posto de vice na chapa.
Já o senador Tasso Jereissati (CE) se dedicará mais ao programa de campanha, talvez na presidência do Instituto Teotônio Vilela, que acaba de lançar um manifesto de diretrizes para discussão.
Resta saber o destino de José Aníbal, atual chefe do instituto, que poderá disputar o Senado e já se disse interessado no governo paulista.
São Paulo, aliás, é outra trincheira complexa. Alckmin precisa compor com o senador José Serra, líder de ala importante que disse a interlocutores que gostaria de tentar a Presidência novamente.
Isso hoje é improvável, logo ele estaria entre ficar no Senado, com a perspectiva de talvez presidir a Casa caso Alckmin seja presidente, e a disputa estadual paulista.
Se bater o pé pelo Bandeirantes, o nó a desatar passa a ser João Doria. Desde que o prefeito paulistano buscou viabilizar voo presidencial e acabou abatido pelo ex-padrinho Alckmin, ele indica interesse pelo Estado.
Em Brasília, partidos como o DEM e o PMDB observam com atenção o movimento, já que não consideram Doria descartado como uma opção centrista caso o prefeito tenha o caminho obstruído dentro do tucanato.
Essas siglas apresentam outro desafio. O DEM vitaminado pela presidência da Câmara vende a ideia de que pode aliar-se ao PMDB de Michel Temer e ao PP, que acaba de ganhar o poderoso Ministério das Cidades.
Governistas dizem que a provável melhoria da economia daria fôlego a uma candidatura do grupo, embora seja mais factível pensar que estão subindo o preço da fatura para Alckmin, dada a impopularidade de Temer.
Mas nomes como o de Henrique Meirelles (PSD) e mesmo Doria seguem na roda.
A obsessão de Alckmin é o tempo de TV, motivo central para que aceitasse presidir o PSDB. Como a campanha será curta, de 45 dias a partir de agosto, Alckmin calculou que precisaria de um veículo para se expor, já que estará fora do governo a partir de abril.
Sem o PMDB e acreditando numa frente ampla de centro, o PSDB crê que pode ter talvez oito ou dez minutos do horário eleitoral, uma enormidade. Com o Planalto patrocinando outra candidatura, isso pode ser esvaziado.
Por fim, o principal: vender Alckmin, que patina nas pesquisas, como candidato. Uma preocupação de seus estrategistas é seu caráter excessivamente paulista, o que pode ser mitigado com a presença de um nordestino carismático como vice. Mas é uma solução conservadora, algo batida e de eficácia incerta.
A saída talvez seja a apontada no documento coordenado por Aníbal: criar programas regionais objetivos. Assim como o Centro-Oeste virou sinônimo de agronegócio e o Sudeste é o motor econômico do país, Nordeste e Norte teriam marca própria.
Segundo pesquisas internas do tucanato, o maior ativo eleitoral de Alckmin é a imagem de experiência e honestidade. O segundo item pode ser abalado caso seja aberto inquérito âmbito da Operação Lava Jato para apurar se houve caixa dois de R$ 10 milhões para campanhas suas, conforme delatores da Odebrecht afirmam e o tucano nega.
Como diz um aliado próximo do tucano, há condições de voo para a candidatura, mas ele será bem turbulento.
CORRIDA DE OBSTÁCULOS
É preciso dividir o poder no partido entre o grupo dos governadores, do Senado e os "cabeças pretas" liderados por Tasso. A repartição pode ocorrer na eleição da Executiva
O xadrez eleitoral em SP é essencial, pois se José Serra não for contemplado, poderá trabalhar contra a candidatura. O senador pode ser candidato ao governo
Também interessado no Bandeirantes, o prefeito de SP pode ser assediado por uma frente de centro agora que Luciano Huck não vai encarnar o "novo"
O PSB, aliado em SP, terá o governo estadual na mão se Alckmin sair e enfrentará o PSDB. É preciso costurar um pacto de não-agressão e talvez algum acordo nacional
Alckmin precisa convencer os aliados de sua densidade eleitoral para evitar que eles acabem orbitando o PMDB, que vem atraindo as siglas com uma candidatura própria
Alckmin gostaria do tempo de TV do PMDB, mas o desgaste do governo torna a sigla tóxica. Mas a economia pode melhorar, gerando a chance de uma candidatura governista pura
O STJ vai decidir se abre inquérito contra Alckmin pela citação de caixa dois na delação da Odebrecht. Se isso acontecer, mesmo que o caso seja menor e se arraste, será um arranhão grande de imagem
Além do tempo de TV, o governador precisa armar palanques estaduais fortes para alavancar sua candidatura em regiões nas quais tem mau desempenho
Tarefa complicada é dar um caráter nacional a Alckmin, associado a SP. A operação começa pela escolha de um vice talvez nordestino, mas inclui programas específicos para o NE e o N
Nenhum comentário:
Postar um comentário