Texto elaborado pelo PSDB é dúbio ao definir papel do Estado na economia e na defesa das privatizações, apontam teóricos da legenda
Pedro Venceslau Thiago Faria / O Estado de S. Paulo.
BRASÍLIA - O PSDB apresentou, ontem, em Brasília, um documento com as diretrizes para reformular o programa partidário visando às eleições de 2018. Produzido pelo Instituto Teotônio Vilela (ITV), braço teórico da legenda, o texto virou alvo de críticas de economistas e intelectuais tucanos logo após seu lançamento.
Com 15 páginas, o texto defende de forma genérica um “choque de capitalismo”, ao mesmo tempo que prega que o Estado deve ser “indutor do desenvolvimento”. O programa afirma ainda que “o livre mercado não é capaz de assegurar distribuição mais equânime das riquezas produzidas” e admite a manutenção de empresas estatais, embora defenda, em linhas gerais, a privatização.
A expressão usada de maneira vaga, na avaliação de críticos, remete a uma frase do então presidenciável tucano Mário Covas em discurso no Senado Federal, em junho de 1989, quando lançou seu nome à corrida presidencial daquele ano pelo PSDB. “No discurso de cerca de 30 anos, há um mote bem atual, quando Covas dizia que o povo brasileiro andava ‘cansado de tanta corrupção, de tanto desgoverno e de tanta incompetência’”, diz o texto atual, intitulado Gente em Primeiro Lugar: o Brasil que queremos.
No documento, o PSDB resume em sete tópicos o que chama de renovação de suas estratégias: retomar o crescimento; combater a pobreza e as desigualdades; oferecer igualdade de oportunidades para todos; eliminar privilégios consolidados por décadas; prestar serviços públicos adequados, a começar pela educação, pela saúde e pela segurança; fortalecer a Federação e promover o desenvolvimento regional.
Ex-presidente do conselho da Eletrobrás e ex-diretora de Privatização do BNDES na era FHC, a economista Elena Landau foi uma das que criticaram o texto do partido. “Quando cheguei na frase ‘nem Estado mínimo, nem máximo, Estado musculoso’, quase parei ali. Não é possível um documento dessa responsabilidade com uma frase dessa. Não acreditei. É cheio de platitudes, um discurso velho. Como pode um partido cuja a marca é a qualidade dos seus quadros técnicos e economistas apresentar um trabalho tão fraco como esse?”, questionou.
Também ligado ao partido, o sociólogo Bolívar Lamounier foi na mesma linha. “O documento usa uma linguagem vaga e genérica. Podíamos ir mais direto ao ponto: privatizar quase ou tudo que resta de empresa estatal, a Petrobrás inclusive”, afirmou.
Elena e Bolívar fazem parte do grupo de intelectuais que divulgou um manifesto em defesa da candidatura do senador Tasso Jereissati (CE) à presidência do PSDB e da saída do partido do governo Michel Temer no dia 6 de novembro.
Críticas internas. Tasso minimizou o lançamento do texto produzido pelo Instituto Teotônio Vilela. “Acho que o que vai ser apresentado vai ser a partir da convenção em diante. Esse texto eu não conheço e nem me interesso em conhecer”, disse ele em relação à escolha da nova Executiva do partido, marcada para o dia 9 de dezembro.
A afirmação de Tasso foi rebatida pelo presidente do ITV, José Aníbal, que disse ter enviado a ele versão preliminar do texto. “Até porque a versão final eu fechei ontem (anteontem) à noite.”
Além de Tasso, a maior parte da bancada de deputados do PSDB na Câmara não participou do evento. Na plateia, apenas parlamentares da ala governista da sigla, além do ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira.
“Não conheço o texto, não tenho como opinar”, disse o deputado Daniel Coelho (PSDBPE), um dos líderes dos chamados cabeças-pretas, ala que defende a saída do partido do governo Temer. “Acho que precisamos discutir diretrizes na convenção, mas não dá para colocar esse texto em votação. Ainda não dá para votar sim ou não para ele”, disse Coelho. “A iniciativa é excelente, mas é preciso debater com mais tempo.”
Já o presidente interino da legenda, Alberto Goldman, afirmou que a expectativa é iniciar a discussão no partido. “Não é um documento final, não é uma decisão de ninguém. É para as pessoas terem um elemento para tudo que você põe para discutir abertamente”, afirmou Goldman.
Colaborou Vítor Marques
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