- Valor Econômico
Lula para todos os gostos, papéis e balizador do centro
Quantas vezes já não se ouviu dizer de pesquisadores e cientistas políticos que Luiz Inácio Lula da Silva não será candidato a presidente da República em 2018, por impossível, improvável e rejeitável? Inúmeras. É praticamente um axioma e a sua campanha nacional, em forma de caravana Estado afora, teria apenas o objetivo de manter o ex-presidente politicamente ativo enquanto seu lobo não vem, ou seja, os processos da Lava-Jato não chegam a seu desenlace fatal. Pois bem, agora é um novo momento.
A candidatura Lula é uma realidade e há juristas garantindo que, independentemente da agilização dos julgamentos no TRF do Rio Grande do Sul, com o objetivo exatamente de inviabilizá-lo, o ex-presidente vai disputar. Como? Os prazos jurídicos podem ser elásticos, há os recursos, as liminares, o efeito suspensivo e outros remédios jurídicos que permitem a Lula disputar. Se a Justiça impugnar sua candidatura, esgotados os recursos, não poderá ser candidato, mas poucos creem nessa hipótese.
Alguns amigos têm o sentimento que seria melhor para Lula não desejar a Presidência da República novamente, evitar a campanha, o embate direto. Do ponto de vista pessoal, ele ainda está muito ferido, desanimado, acha-se realmente perseguido, considera que Marisa, sua mulher morta em fevereiro, foi vítima da pressão da Lava-Jato que agora estabeleceu uma busca incessante contra seus filhos, enfim, ainda não perdeu, mas está perdendo força para lutar. Porém, não parou e não pensa parar. Acha ainda que se outros, mais ou igualmente comprometidos com a Justiça como ele, estão na disputa, porque ele entregaria os pontos?
A meta é ir até o fim. Do ponto de vista da Justiça, não haveria como detê-lo, tantos são os citados recursos, embargos, liminares e instâncias a explorar. E do ponto de vista político, sua presença ainda tem tanto significado que os especialistas volta e meia consultados no caso se dividem em três grupos, com um denominador comum: Geraldo Alckmin, o governador de São Paulo, candidato do PSDB à Presidência da República.
Um desses grupos, minoritário, acredita que Lula não será candidato e isso estaria comprovado até mesmo pela decisão de Geraldo Alckmin de se assenhorar da candidatura do PSDB, agora com alta chance de vitória,devido à ausência daquele que até agora era considerado imbatível. Outro grupo, bem maior, aposta que a candidatura Lula, pela esquerda, deve permanecer para facilitar a vida de Alckmin: ao polarizar com Jair Bolsonaro, pela direita, os dois abririam ao centro uma avenida para Geraldo Alckmin transitar. E um terceiro, mais lulista emotivo, quer a candidatura porque crê no ex-presidente como única forma de livrar o país de Bolsonaro e não deixar a disputa entre a direita e o centro-direita, novamente aqui representada por Alckmin.
Hoje, Lula é candidato para valer, embora alguns a seu lado já considerem que, tombando como vítima de perseguição, o ex-presidente teria chances mais seguras de eleger o nome que apontasse para substituí-lo. Essa solução, porém, ainda não está sobre a mesa. Em algum momento será avaliado o custo benefício da estratégia atual.
Por enquanto, sua candidatura é considerada necessária e "apaziguadora" do PT e dos movimentos ao redor do partido que vislumbram a volta ao poder. Sem essa esperança, seria o caos, preveem.
O sucesso de Bolsonaro é uma unanimidade de angústia em todos os segmentos políticos. Nota-se que ele vem dando guinadas na sua campanha. Tinha um apoio da extrema direita mais histriônica, depois passou a ter um apoio dos oficiais da reserva que estavam na tortura do regime militar, como o Brilhante Ustra, mais adiante, visto como possibilidade pelos da ativa e os civis, tendo nos generais de pijama, da reserva, que se dedicam às redes sociais e internet, seus cabos eleitorais. Agora o deputado já extrapolou esses limites. O sucesso com os civis e a juventude, com a classe média, impressiona.
Os políticos já o veem seriamente como alternativa. Está desconstruindo a imagem de mau menino, abrindo-se para o diálogo com o empresariado, pegando um verniz internacional em viagens, conversando com economista. Na secura política, é único que tem se fortalecido gradativamente. Só Lula para detê-lo, confia a torcida.
E não será a candidatura Bolsonaro, ou a candidatura Alckmin que avançou muito esta semana, que determinarão a interrupção ou não da candidatura Lula. Ninguém vê ainda Alckmin como uma peça definida, o PSDB ainda vai lutar muito internamente.
Apressaram-se os tucanos, porém, a buscar a união até mesmo para evitar maiores sobressaltos com o movimento do presidente Michel Temer na direção de ser ele mesmo o candidato do centro. Alckmin sentiu o real risco de isolamento, do qual ainda não está livre.
Bateu um certo desespero nos tucanos com as movimentações do Palácio do Planalto. Alckmin, Bolsonaro e sobretudo Lula sabem, mais do que ninguém, que, com a penúria instalada na campanha de 2018, a tendência do centro e seus numerosos seguidores é de abrigar no governo, que é lugar quente.
Susto no voo
Assombrados pelo fantasma da opinião pública insuflada e à espreita, os políticos vivem num mundo tenso, agem e transitam á sorrelfa, para evitar a violência dos discursos, ameaças e gritos no seu trânsito entre aeroportos, residências e o Congresso Nacional.
Um voo entre Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e Brasília, esta semana, transportou a senadora Simone Tebet, a deputada e ex-líder do PSB Tereza Cristina e o deputado Carlos Marun, líder e defensor intransigente do presidente Michel Temer. Ao pousar, viveram momentos de grande apreensão.
O comandante avisou que todos deveriam permanecer em seus lugares porque estava enfrentando problemas para atracar no finger designado para o seu avião.
O frisson que percorreu as espinhas e murmúrios foram ouvidos por todos. Esperavam a entrada triunfal da Polícia Federal para prender Marun, tinham certeza. Mas o problema era o finger mesmo, para decepção dos viajantes: uma vez resolvido, foram todos para casa, livres.
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