Quase por gravidade, o posto de candidato ao Palácio do Planalto pelo PSDB se aproxima cada vez mais do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Após uma longa e tediosa —exceto para os próprios caciques tucanos– sequência de embates internos, chegou-se a um acordo para entregar a Alckmin a presidência do partido. Firma-se alguma paz, ainda que precária, entre os grupos pró e contra a permanência no governo Michel Temer (PMDB).
Tal divisão se acirrou em maio, ao vir à tona a devastadora delação dos executivos da JBS. Desde então, arrasta-se sem nada que se pareça com um sinal de coerência ou coragem em qualquer dos lados.
A sigla paga altíssimo preço pela forma pusilânime com que trata o caso do senador Aécio Neves (MG), candidato presidencial em 2014, flagrado a extrair R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista.
Para defender o indefensável, o mineiro se agarrou ao poderio da base situacionista no Congresso, do qual também dependia Temer para barrar as denúncias da Procuradoria-Geral da República.
Entre os que advogam a retirada da coalizão, tampouco se notam propósitos mais elevados.
O que se pretende não parece mais que uma tentativa canhestra de poupar o PSDB dos desgastes de ser governo —da proposição de reformas controversas às barganhas com verbas e cargos por apoio parlamentar.
Difícil imaginar que a legenda possa se apresentar ao eleitorado, em 2018, como uma força oposicionista ou renovadora.
Na crucial área econômica, a agenda tucana em nada conflita com as diretrizes estabelecidas pela administração atual, como se vê no recém-lançado documento programático "Gente em Primeiro Lugar: o Brasil que Queremos".
Reformas de orientação liberal e privatizações são defendidas sem rodeios no texto —um avanço, diga-se, em relação ao diversionismo de campanhas anteriores.
Pragmático, Alckmin dá indicações de que não alimentará o antagonismo ao PMDB. Tem a missão, afinal, de viabilizar alianças ao centro do espectro partidário.
Com o esvaziamento das pretensões do prefeito tucano João Doria e a desistência do apresentador de TV Luciano Huck, o nome do governador se fortalece nesse campo.
Sua pontuação nas pesquisas, porém, encontra-se abaixo dos 10%; faltam-lhe carisma e desenvoltura para discorrer sobre temas que transcendam a política paulista. Não se pode descartar o risco, ademais, de que venha a ser atingido por investigações da Lava Jato.
De todo modo, tem a ganhar com a rejeição ao PT, que proporcionou expressivas vitórias peessedebistas nas eleições municipais do ano passado, e a perspectiva de recuperação da economia, que tende a retirar parte do apelo de postulantes mais radicais.
São trunfos consideráveis, embora não se deva subestimar, como se costuma dizer dos democratas nos EUA, a capacidade dos tucanos de atirar no próprio pé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário